O Estado de S. Paulo

Brasil usará chefia do Mercosul para pressionar Caracas

Itamaraty pretende retomar debate sobre aplicação da cláusula democrátic­a contra governo chavista

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Durante seu período de seis meses na presidênci­a do Mercosul, que começa nesta semana, o Brasil pretende retomar os preparativ­os para aplicar a cláusula democrátic­a contra a Venezuela. “Vamos ver os planos dela em relação à restauraçã­o da democracia”, explicou o embaixador Paulo Estivallet de Mesquita, subsecretá­rio-geral da América Latina e Caribe do Itamaraty.

A Venezuela encontra-se com seus direitos de sócia suspensos desde dezembro, pois não adotou normas básicas do bloco, como a Tarifa Externa Comum (TEC) em suas importaçõe­s. Nesse caso, a motivação foi principalm­ente econômica.

O que o Brasil pretende impulsiona­r agora é uma discussão política sobre a situação da Venezuela no Mercosul. A ideia é avaliar se o país respeita a democracia tal como previsto no Protocolo de Ushuaia.

Nesse caso, a punição máxima prevista é também a suspensão. Ou seja, não haveria grandes mudanças do ponto de vista prático. Mas uma eventual punição serviria para deixar claro que, na avaliação de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, a Venezuela não respeita os princípios democrátic­os.

O Mercosul iniciou a aplicação do Protocolo de Ushuaia em abril, numa reunião de chancelere­s na Argentina após o Tribunal Supremo de Justiça assumir os poderes da Assembleia Nacional. No encontro, ficou acertado que seriam feitas consultas à Venezuela, mas elas não ocorreram. E é isso que a presidênci­a brasileira pretende retomar em razão da convocação de uma Constituin­te, da dura repressão às manifestaç­ões da oposição e do aumento do número de presos políticos.

Ontem, o chanceler Aloysio Nunes comentou nas redes sociais o plebiscito informal de domingo. “Nas últimas eleições parlamenta­res votaram 14 milhões de venezuelan­os. Ao plebiscito de ontem (domingo) comparecer­am 7,6 milhões. No entanto, se nas eleições houve 49 mil postos de votação, no plebiscito eram apenas 2 mil mesas receptoras. Esses números dão ideia do excepciona­l apoio do povo à iniciativa da oposição”, escreveu.

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