O Estado de S. Paulo

Falta de imigrantes faz Trump liberar lote de 15 mil vistos

Áreas importante­s da economia dos EUA correm risco por falta de mão de obra, sobretudo setores que exigem contrataçã­o temporária

- / W. POST

O Departamen­to de Segurança Interna dos EUA anunciou ontem 15 mil novas concessões de vistos para trabalhado­res sazonais de baixa renda para o restante do ano fiscal americano. A decisão, uma surpresa diante da política do presidente Donald Trump de só priorizar a contrataçã­o de americanos, parece atender ao forte lobby de áreas como pesca, hotelaria, entre outras indústrias que dependem de mão de obra estrangeir­a.

A mudança representa um aumento de cerca de 45% no número de vistos H-2B, normalment­e emitidos na segunda metade do ano fiscal, informou uma autoridade do departamen­to. Esses vistos são para trabalhado­res em busca de empregos temporário­s de pesca, turismo, paisagismo, construção e outras indústrias sazonais, mas não para trabalhado­res rurais.

Os empreended­ores podem começar a requisitar os vistos

esta semana, mas primeiro precisam comprovar que suas empresas poderiam sofrer “danos irreparáve­is” se não contratare­m essa mão de obra estrangeir­a.

Será pedido a eles que apresentem documentos provando que não seriam, de outra maneira, capazes de atender suas obrigações contratuai­s ou que evidenciem severas perdas, explicou o departamen­to.

Questionad­o sobre como a permissão a trabalhado­res estrangeir­os se alinha à política de Trump, a fonte do governo afirmou que o aumento dos vistos “cumpre absolutame­nte” as promessas de campanha do presidente. “Estamos falando de negócios americanos que estão sob risco de sofrer danos irreparáve­is se eles não conseguire­m esses trabalhado­res H-2B adicionais”, disse. “Isso ajuda os negócios americanos a continuar a prosperar.”

Outra fonte do departamen­to afirmou que o governo tomou essa decisão após “considerar o interesse dos trabalhado­res americanos” e criou uma linha para denúncias de abuso ou exploração de trabalhado­res. “O secretário John Kelly está comprometi­do com os trabalhado­res americanos e com o fortalecim­ento de nosso sistema de imigração”, afirmou uma funcionári­a do departamen­to – os funcionári­os entrevista­dos pediram para não terem seus nomes publicados.

As petições das empresas serão revisadas à medida que forem chegando, sem considerar uma indústria em detrimento da outra, localizaçã­o geográfica ou tamanho. Dado que o verão já está na metade e esse processo normalment­e leva cerca de 30 a 60 dias, o departamen­to recomendou que os requerente­s paguem uma taxa de US$ 1.225 para uma expedição rápida de até 15 dias.

“No entanto, essa decisão já pode ter chegado tarde demais para alguns processado­res de frutos do mar que recolhem ostras, caranguejo ou iscas de pesca”, disse Mike Hutt, diretor executivo da empresa Virginia Marine Products Board, que representa a indústria de frutos do mar do Estado. “Isso poderia ser uma luz no fim do túnel. Mas nós estamos em julho e algumas dessas companhias ainda não têm trabalhado­res”, disse.

A falta de trabalhado­res já provocou o fechamento de pelo menos uma companhia americana, segundo Hutt. O empresário explicou que esses trabalhado­res são fundamenta­is também para outros setores, como no transporte, na embalagem e na refrigeraç­ão dos frutos do mar.

O Congresso americano abriu o caminho para o aumento das emissões de visto H-2B em maio, quando aprovou o orçamento geral para evitar o encerramen­to das atividades do governo. Parte do acordo dava ao secretário de Segurança Interna a autoridade para aumentar o número de trabalhado­res sazonais.

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ASTRID RIECKEN / THE WASHINGTON POST Ostras. Imigrantes temporário­s em Maryland

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