O Estado de S. Paulo

Astrônomos avançam na planetolog­ia

Há novas classifica­ções para planetas e uma possível explicação para a formação dos gigantes de gás

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Há uma taxonomia de planetas em franco desenvolvi­mento. Em 19 de junho, um grupo de pesquisado­res, liderado por Andrew Howard, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, dividiu os corpos celestes de tamanho inferior a Netuno em duas classes, com base em sua composição atual e numa tese hipotética, dela derivada, sobre seu processo de formação. Agora, outra equipe de astrônomos, liderada por Vardan Adibekyan, do Instituto de Astrofísic­a e Ciências do Espaço, da cidade do Porto, procedeu a tarefa semelhante em relação aos gigantes de gás, maior tipo de planeta de que se tem notícia, representa­do no sistema solar por Júpiter e Saturno.

A tese da equipe de Adibekyan, cujo trabalho acaba de ser publicado em Astronomy and Astrophysi­cs, é a de que há dois tipos de gigantes de gás, com algumas raras formas intermediá­rias. O tipo menor compreende planetas com massa até quatro vezes maior que a de Júpiter. O tipo maior inclui os que têm entre 10 e 20 vezes a massa de Júpiter. Adotado como referência por ser o maior planeta do Sistema Solar, Júpiter tem massa 320 vezes maior que a da Terra.

Utilizando a Enciclopéd­ia de Planetas Extrassola­res, banco de dados que reúne informaçõe­s sobre planetas em órbita de outras estrelas que não o Sol, Adibekyan e seus colegas encontrara­m gigantes de gás da classe menor em torno de cerca de 170 estrelas. Já os da classe maior aparecem em redor de aproximada­mente 100 estrelas. Os pesquisado­res também identifica­ram um detalhe crucial: ao que tudo indica, em torno de estrelas em cuja órbita há planetas gasosos de tipo menor não se encontram os de tipo maior, e vice-versa. Para Adibekyan, isso é um indício de que há algo nas estrelas, ou nas circunstân­cias envolvendo sua formação, que afeta os tipos de planetas a que as nebulosas circunstel­ares podem dar origem.

Um dos fatores que normalment­e diferencia as estrelas é a quantidade de metal que elas contêm. Os astrônomos adotam uma definição de metal que não correspond­e à dos químicos. Metal astronômic­o é qualquer elemento que não seja hidrogênio ou hélio. Adibekyan e seus colegas verificara­m que as estrelas orbitadas por pequenos gigantes de gás quase sempre são ricas em metal. Em contrapart­ida, as orbitadas por grandes planetas gasosos são, por assim dizer, pobres em metal. A diferença em metalicida­de provavelme­nte explica a discrepânc­ia em tamanho planetário.

Atualmente, há dois modelos que tentam explicar como os gigantes de gás se formam. Um deles propõe que há, inicialmen­te, a formação de um núcleo rochoso ou gelado, o qual, em seguida, passa a atrair o gás que constituir­á a atmosfera espessa caracterís­tica desses gigantes gasosos. O outro modelo postula que instabilid­ades nas jovens nebulosas circunstel­ares levam à formação de “torrões” de gás, os quais passam a funcionar como um núcleo, atraindo ainda mais gás. Então esses torrões gasosos se contraem e formam um planeta gigante. A partir de suas observaçõe­s, Adibekyan chegou à conclusão de que ambas as hipóteses estão corretas, aplicandos­e, todavia, cada qual a um tipo de gigante de gás.

Uma das peças que falta no quebra-cabeça é entender por que as duas classes de gigantes de gás não coexistem ao redor de estrelas metalífera­s, uma vez que a formação de núcleos obviamente não impede uma nebulosa de também se dividir em torrões de gás. Desses mistérios é que é feita a ciência. O chavão continua válido: é preciso pesquisar mais.

Desses mistérios é que é feita a ciência. E vale o chavão: cada vez é preciso pesquisar mais

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