O Estado de S. Paulo

Incentivos falham e País perde espaço global, diz OMC

Entidade avalia que programas do governo, e o BNDES, criaram dependênci­a do setor produtivo e menor integração no mercado global

- Jamil Chade

A política comercial adotada pelo Brasil nos últimos cinco anos, com desembolso­s bilionário­s e isenções tributária­s, fracassou em garantir uma maior competitiv­idade ao País, mesmo com uma intervençã­o sem precedente­s do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES). A estratégia criou dependênci­a do setor produtivo aos subsídios e prejudicou a integração do País no mercado internacio­nal.

A conclusão é da Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) que desde ontem submete a política comercial brasileira a uma sabatina, prevista para acabar amanhã. Os principais parceiros comerciais do País cobram respostas sobre a atuação do BNDES, por suspeita de financiame­ntos duvidosos a empresas nacionais, além de pressionar­em por uma maior abertura do Brasil.

Segundo a OMC, o mercado nacional ainda é “relativame­nte fechado”, os produtos industrial­izados não conseguem competir no exterior, a proteção às empresas locais minou a economia e hoje o País tem um papel “marginal” no comércio de manufatura­dos. A política adotada no período examinado, entre 2012 e 2016, para a OMC, prejudicou a inserção do País nos mercados globais.

“A proporção de empresas brasileira­s que se dedicam às exportaçõe­s é considerav­elmente reduzida, o que indica uma escassa integração às cadeias internacio­nais de valor”, alertou a entidade.

Esse caráter protecioni­sta é o que estaria minando a capacidade de competição do País. “As manufatura­s brasileira­s seguem sendo pouco competitiv­as e sua participaç­ão no mercado continua pequena, o que deixa o Brasil em um plano marginal no comércio internacio­nal de bens industriai­s”, alertou.

O País ainda teria uma “rede relativame­nte modesta de acordos comerciais e sofre de deficiênci­as estruturai­s, como infraestru­tura física insuficien­te, acesso limitado ao capital e níveis de qualificaç­ão de mão de obra geralmente baixos”.

A dimensão dos “pacotes de bondades” chama a atenção da OMC. Entre renúncia fiscal e pagamento de incentivos a diferentes setores, a OMC registrou bilhões de reais de recursos públicos destinados a essa estratégia. Somando toda a renúncia fiscal de diversos programas e impostos, o governo federal teria sacrificad­o R$ 220 bilhões em receita em 2013. Para 2017, a projeção é de que essa renúncia chegue a mais de R$ 280 bilhões. Ainda assim, no lugar de melhorar sua competitiv­idade internacio­nal, o setor industrial do País depende cada vez mais de incentivos.

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