O Estado de S. Paulo

Ao gosto do freguês

- Adriana Moreira

Já no fim do segundo dia de pedaladas pela região de Blumenau, em Santa Catarina, Dudu, o guia, avisou que teríamos ainda uma subida íngreme de um quilômetro para encarar. “Vou na van”, disse eu, segura da minha decisão (e da minha falta de preparo físico). Sabendo que ainda haveria mais no dia seguinte, achei que aquele seria um esforço desnecessá­rio para as minhas pernas destreinad­as. Meu roteiro pelo Vale da Cerveja era composto por três dias de pedal e a confortáve­l certeza de ter um carro de apoio quando o fôlego não ajudasse.

Criado pela empresa catarinens­e Caminhos do Sertão, o roteiro tinha como objetivo diário chegar a uma cervejaria artesanal em cidades no entorno de Blumenau (sim, aquela da Oktoberfes­t), no chamado Vale da Cerveja. Oficialmen­te, são 11 as cervejaria­s associadas, de cidades como Blumenau, Apiúna, Brusque, Gaspar, Pomerode, Ibirama, Indaial, Penha e Timbó. Mas o número de cervejaria­s de pequeno e médio porte na região é bem maior.

Usando Blumenau como base, a rotina era ir de van até o ponto de partida, pegar as bicicletas que nos esperavam e seguir majoritari­amente por estradas de terra, acompanhan­do o curso do Rio Itajaí e seus afluentes – que abastecem os tonéis de produção cervejeira que saciaria nossa sede ao fim do dia.

Desafios. No primeiro dia, foram 46 quilômetro­s de pedalada – não para mim, que parei na metade do percurso, na hora do almoço. O trecho de subidas até a margem do riacho onde o almoço nos esperava havia consumido todo meu fôlego. Assim, cheguei no conforto do ar condiciona­do à cervejaria DasBier, em Gaspar.

Mas no segundo dia, na hora em que a van de apoio parou ao nosso lado e Dudu me perguntou: “Quer subir na van?”, o grupo (éramos em 12 pessoas), me incentivou a continuar. Composto de casais e amigos acima dos 40 anos, eles estavam acostumado­s a viajar juntos, mas me conheciam há apenas 24 horas. “Vamos, você consegue”, diziam uns. “Se precisar, desce e empurra, a gente vai fazer isso também”, diziam outros. Me convencera­m.

Não que eu tenha aguentado pedalar por todo o trecho íngreme – desci da bike e empurrei assim que minhas coxas começaram a pedir clemência. Mas ali estava eu, feliz, superando meus limites, recebendo apoio de recém-conhecidos – alguns, àquela altura, também já empurravam suas bikes.

Saber que haveria um carro de apoio foi decisivo para que eu encarasse o roteiro. Não queria ser um estorvo para o grupo e, muito menos, fazer da viagem uma experiênci­a negativa, sofrida. “Fique tranquila, a van estará nos acompanhan­do o caminho inteiro”, me tranquiliz­ou Fernando Angeoletto, um dos sócios da Caminhos do Sertão.

E assim foi. VIAGEM A CONVITE DA CAMINHOS DO SERTÃO, COM APOIO DA PREFEITURA DE BLUMENAU

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 ??  ?? Típicas. Casinhas de madeira surgem o tempo todo pelo trajeto
Típicas. Casinhas de madeira surgem o tempo todo pelo trajeto
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