O Estado de S. Paulo

Esquenta debate da reforma política

Deputados formam frente contra emenda que muda forma de escolha de parlamenta­res; medida foi aprovada em comissão de reforma política

- Isadora Peron Felipe Frazão / BRASÍLIA Ricardo Galhardo

Deputados batem boca na comissão que discute a reforma política. PV e PT analisam ajuizar ação no Supremo contra emenda que prevê a adoção do “distritão”, aprovada pelos parlamenta­res. O fundo público de R$ 3,6 bilhões para financiar campanhas, porém, é consenso. Também foi aprovado mandato de 10 anos no STF.

A emenda que prevê a implementa­ção do sistema eleitoral conhecido como distritão, aprovada pela comissão especial da reforma política no início da madrugada de ontem, deve enfrentar resistênci­a no plenário da Câmara dos Deputados. PV e PT já discutem ajuizar ações no Supremo Tribunal Federal contra a proposta. Já a criação de um fundo com recursos públicos, estimado em R$ 3,6 bilhões, para financiar as campanhas a partir de 2018 é consenso.

As medidas estão entre as principais aprovadas pela comissão especial, que deve terminar a votação do relatório da reforma política na próxima terça-feira. A expectativ­a é de que o texto seja levado a plenário em seguida.

Pelo modelo aprovado, Estados e municípios são considerad­os distritos, e o vereador ou deputado que obtiver mais votos é eleito. Segundo o modelo atual – o sistema proporcion­al –, o candidato mais votado não garante necessaria­mente um assento no Legislativ­o, uma vez que soma o número de votos no candidato e no partido para definir as cadeiras.

A proposta pode ser judicializ­ada. A Direção Nacional do PV, em reunião virtual realizada ontem, decidiu se aliar ao PT e fechou questão contra o distritão. A legenda já tem um parecer jurídico para embasar uma Ação Direta de Inconstitu­cionalidad­e (ADI) a ser apresentad­a ao STF caso o distritão seja aprovado no plenário.

Segundo Vera Motta, dirigente nacional e responsáve­l pela área jurídica do PV, o distritão fere cláusulas pétreas da Constituiç­ão. “Os congressis­tas estão votando contra a Constituiç­ão”, disse Vera. O PT também discute alternativ­as jurídicas contra o sistema eleitoral.

O distritão como modelo de transição a ser adotado em 2018 e 2020 foi aprovado com um placar apertado: foram 17 votos a favor, 15 contra e 2 abstenções. A tendência é de que o embate se repita no plenário. A partir de 2022, está prevista a vigência do sistema distrital misto. Parlamenta­res da oposição e da base, porém, formaram uma frente supraparti­dária para trabalhar contra a proposta.

Para o relator da comissão, deputado Vicente Cândido (PTSP), que é contra a proposta, “a base do governo tomou um susto” com o resultado da votação. Um levantamen­to ao qual o

Estado teve acesso mostra que a proposta teria hoje o apoio de, no máximo, 320 deputados. Por se tratar de emenda à Constituiç­ão, o modelo precisa ser aprovado por, no mínimo, 308 votos.

Embora defensor do sistema eleitoral distrital misto, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), afirmou nesta ontem que, caso passe pela Câmara, o distritão deve ser aprovado também no Senado.

Fundo. Durante a aprovação do fundo bilionário, os deputados retiraram do texto a previsão de que caberia aos dirigentes partidário­s estabelece­r os critérios de distribuiç­ão dos recursos do fundo. Agora, esses recursos serão divididos segundo regras a serem criadas em outro projeto de lei. “Não é nenhuma glória, nenhum troféu para nós criar um fundo eleitoral qualquer que seja o valor. Temos de ter responsabi­lidade neste momento”, afirmou Vicente Cândido.

Já a deputada Luiza Erundina listou alguns programas da área social do governo que têm orçamento para este ano menor que os R$ 3,6 bilhões previstos para o fundo eleitoral. Entre eles, a deputada citou o farmácia popular, com R$ 2,7 bilhões previstos. “Que justiça fiscal e que justiça social está se fazendo no País?”, questionou a deputada.

Para que as mudanças possam valer na eleição de 2018, o texto tem de passar pelos plenários da Câmara e do Senado até o fim de setembro.

/ COLABORARA­M THIAGO FARIA e JULIA LINDNER

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO
 ?? ANDRE DUSEK/ESTADÃO ?? Clima. Deputados Ivan Valente (à esq.) e Henrique Fontana durante sessão da comissão da reforma política na Câmara
ANDRE DUSEK/ESTADÃO Clima. Deputados Ivan Valente (à esq.) e Henrique Fontana durante sessão da comissão da reforma política na Câmara

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