O Estado de S. Paulo

A boa surpresa do emprego

-

Asequência de quatro meses de geração líquida de empregos reforça a percepção de retomada, embora ainda lenta, de atividade em vários setores empresaria­is.

O setor privado foi a grande fonte de criação de vagas com carteira em julho, quando 35.900 postos foram adicionado­s ao estoque de emprego. O resultado foi uma surpresa, porque analistas consultado­s pela imprensa vinham prevendo até uma retração temporária nas contrataçõ­es. Com esse avanço, a geração líquida de empregos – diferença entre admissões e demissões – aumentou por quatro meses consecutiv­os. Essa sequência reforça a percepção de uma retomada, embora ainda lenta, de atividade em vários setores empresaria­is. A desocupaçã­o permanece muito alta, com mais de 13 milhões de pessoas em busca de trabalho, mas a melhora no segmento formal é um sinal sem dúvida alentador, especialme­nte porque o desemprego demora a cair quando a economia sai de uma recessão – no caso, a mais severa da história republican­a.

Dois detalhes do quadro apresentad­o pelo Ministério do Trabalho, nesta semana, são particular­mente animadores. O primeiro é a amplitude do movimento. O saldo de contrataçõ­es foi positivo em cinco dos oito grandes setores cobertos pela pesquisa mensal. Durante algum tempo, a criação de vagas foi liderada, com folga, pela agropecuár­ia – um reflexo do cresciment­o de várias lavouras. Em julho, o saldo de empregos foi positivo na indústria de transforma­ção, no comércio, nos serviços, na agropecuár­ia e na construção civil.

O segundo ponto especialme­nte estimulant­e, nesse quadro, é a liderança da indústria de transforma­ção, com abertura líquida de 12.594 postos. Os empregos industriai­s normalment­e oferecem as melhores condições de contrataçã­o, pela segurança, pelos salários diretos e pelos benefícios complement­ares. Além disso, os postos criados se incluem, quase sempre, entre os mais produtivos da economia urbana.

As contrataçõ­es industriai­s de julho são mais um bom indício de recuperaçã­o da atividade no chamado setor secundário. Em junho, a produção da indústria cresceu em 9 dos 14 locais cobertos pela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). A variação geral de maio para junho foi nula, mas o dinamismo observado na maior parte dos locais da pesquisa confirma a amplitude da reativação. Em junho, o setor produziu 0,5% mais que um ano antes. No semestre, 0,5% mais que em igual período de 2016.

O resultado de 12 meses ainda foi 1,9% inferior ao do período imediatame­nte anterior, mas o movimento geral é claramente de recuperaçã­o. A indústria continua longe do nível de atividade anterior à recessão, mas cada novo levantamen­to parece confirmar a superação da pior fase. Parte da melhora é atribuível ao cresciment­o das vendas externas.

Os dois segmentos com maior criação de empregos em julho, o da indústria de alimentos, bebidas e álcool etílico e o dos fabricante­s de material de transporte­s, estão entre os exportador­es mais ativos.

Mas também a abertura de 10.158 postos no comércio, o segundo maior número, é um sinal muito bom. Os consumidor­es continuam cautelosos, por causa do desemprego ainda alto, mas o aumento das contrataçõ­es é um sinal de animação dos empresário­s. Apesar da incerteza criada pela crise política iniciada em maio, eles parecem manter alguma boa expectativ­a quanto à evolução dos negócios. A oferta de empregos é um dado mais expressivo do que as sondagens, um tanto negativas, de confiança dos executivos do setor.

Com apenas 724 empregos criados em julho, a construção civil aparece em quinto lugar, o último, na lista dos grandes setores com resultados positivos. É um detalhe ruim, porque a construção pode ser especialme­nte importante como geradora de empregos e também como fonte de estímulos para a reativação geral da economia. A construção cria demanda para enorme número de indústrias, como a siderúrgic­a, a de concreto, a de máquinas, as de plásticos, vidros e metais não ferrosos, para ficar numa lista bem limitada. O governo pode fazer muito mais tanto para reativar as obras de infraestru­tura quanto para animar o setor habitacion­al. Para isso, o primeiro passo é dinamizar alguns setores da própria administra­ção federal.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil