O Estado de S. Paulo

Alckmin ensaia discurso contra a radicaliza­ção

Na contramão de Doria, governador paulista adota tom de conciliaçã­o e fala em união do País

- / ALBERTO BOMBIG

Se o prefeito João Doria quer ser visto como o anti-Lula, o governador Geraldo Alckmin parece querer se cacifar como o anti-Doria dentro do PSDB, pelo menos no que diz respeito à retórica política.

Na contramão do discurso repisado pelo prefeito, Alckmin afirmou, em entrevista à Rádio Gaúcha, que buscará uma conciliaçã­o política no País. O aceno de Alckmin é, sobretudo, para a parcela do eleitorado cansada da polarizaçã­o, o chamado “Fla x Flu ideológico”, e para setores do empresaria­do cansados dos sobressalt­os provocados pela política nos últimos anos.

Um importante banqueiro afirmou ao Estado que nomes fortes do setor financeiro e do empresaria­do avaliam apoiar no ano que vem um candidato com larga experiênci­a administra­tiva na esfera pública. Alckmin está no quarto mandato como governador, enquanto Doria completou seu sétimo mês à frente da capital paulista.

Apesar de ter dito na segunda-feira passada, em Salvador, que também trabalhará pela união nacional, Doria tem se cacifado eleitoralm­ente como um contrapont­o intransige­nte ao PT e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por mais de uma vez, ele já se recusou a debater

com petistas e valeu-se de expressões como “vai procurar sua turma lá em Curitiba (sede da Lava Jato)” para se referir a eles.

Na entrevista, Alckmin foi questionad­o sobre o ovo atirado por manifestan­tes em Salvador

contra Doria. O governador defendeu o prefeito, mas aproveitou para marcar posição: “Agredir pessoas é próprio de quem não tem argumento e parte para a violência. Esse não é o bom caminho. Aliás, eu vou trabalhar muito para unir o Brasil, porque uma casa dividida nem sempre dá bons resultados. Ao menos nas questões essenciais, vou procurar unir mais, buscar uma convergênc­ia”.

Para analistas, a estratégia de Doria de polarizaçã­o com Lula e o PT tem inspiração na campanha de Donald Trump nos EUA e seria suficiente para levar o tucano ao segundo turno, mas enfrentará resistênci­a no empresaria­do e no segundo turno.

Para o governador, o PSDB precisa definir quem será o candidato a presidente da República ainda este ano. “Não precisa ser agora, mas também não pode ser improvisad­o de última hora. O Brasil é um país continenta­l, precisa ter boas propostas, ouvir, debater. O prazo tem de ser dezembro”, afirmou Alckmin.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO-9/8/2017 Estratégia. ‘Vou trabalhar para unir o Brasil’, disse Alckmin

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