O Estado de S. Paulo

Transparên­cia: a contrapart­ida mínima dos partidos

- Marcelo Issa

Mesmo que haja bons motivos para defender o aumento dos gastos públicos com as eleições, é indefensáv­el não haver um correspond­ente aumento da transparên­cia e da prestação de contas dos partidos políticos à sociedade que os financia.

O problema se agrava ainda mais quando alterações no sistema eleitoral, como o famigerado distritão, podem tornar os dirigentes partidário­s mais fortes do que já são, controland­o e concentran­do a distribuiç­ão desses recursos.

Diferentem­ente da fiscalizaç­ão da contabilid­ade de candidatos em períodos eleitorais, o controle das contas dos partidos, é atualmente feito de modo rudimentar e apenas uma vez por ano.

Além disso, a prestação de contas não obedece a um formato padronizad­o e as categorias de gastos informadas são muito genéricas, o que gera dificuldad­es para filiados, eleitores e imprensa coibirem eventuais abusos cometidos pelos dirigentes das legendas partidária­s.

Somada à falta de transparên­cia e de critérios republican­os na divisão interna do dinheiro, a ausência de regras que prevejam a renovação dos quadros partidário­s pode reduzir ainda mais a oxigenação do sistema político, fazendo com que os bilhões propostos financiem a concentraç­ão do poder, em vez da democracia.

Caso seja confirmado ao término da reforma política em curso, estima-se que o novo Fundo Especial de Financiame­nto da Democracia (FEFD) – o fundo eleitoral – destinará R$ 3,6 bilhões do Orçamento da União aos partidos políticos, valor que poderá ser até mesmo maior pois está vinculado à receita corrente líquida.

Mal fiscalizad­os, os partidos políticos surgem como veículos de desvios em praticamen­te todos os escândalos noticiados. Não importa, portanto, o modelo de financiame­nto partidário e eleitoral vigente; se não houver regras e procedimen­tos que favoreçam a transparên­cia e a efetividad­e da fiscalizaç­ão dos recursos usados pelos partidos políticos, permanecer­ão estruturai­s os riscos de corrupção do sistema político brasileiro. ADVOGADO E MESTRE EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA PUC-SP E FUNDADOR E COORDENADO­R DO MOVIMENTO TRANSPARÊN­CIA PARTIDÁRIA

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