O Estado de S. Paulo

Para procurador, não há provas que liguem contas a Lula e Dilma

Ivan Cláudio Marx diz que Joesley não comprovou que petistas teriam sido beneficiár­ios de depósitos de US$ 150 mi

- Fábio Fabrini /

O procurador da República no Distrito Federal Ivan Cláudio Marx afirmou que o empresário Joesley Batista, dono da JBS, não apresentou comprovaçã­o de que os ex-presidente­s Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff eram beneficiár­ios ou sabiam de contas no exterior, nas quais a empresa teria depositado US$ 150 milhões em propinas para uso em campanhas eleitorais.

A acusação foi feita pelo delator em depoimento­s à Procurador­ia-Geral da República (PGR), mas, de acordo com Marx, que foi designado para investigar o caso na primeira instância, faltam evidências do envolvimen­to dos petistas nos crimes relatados. “É uma história que ele (Joesley) contou, que pode ser verdade ou mentira, mas é insuscetív­el (inalcançáv­el) de prova”, diz o procurador.

Marx alega que ouviu o empresário em junho e requereu a ele documentos que pudessem atestar o envolvimen­to dos dois ex-presidente­s no suposto esquema, mas nada foi apresentad­o. Além disso, segundo o procurador, o próprio depoimento do delator demonstra que não há como provar os supostos crimes

por meio de alguma diligência a ser solicitada pelo Ministério Público Federal (MPF).

“É uma história meio absurda desde o início”, afirma. “Ele não tem nada. Essa história não tem pé nem cabeça. Não tem como provar.” As conclusões de Marx foram divulgadas pelo site UOL e confirmada­s por ele em entrevista ao Estado. Procurada, a JBS informou, em nota, que, “a despeito do grande número

de informaçõe­s e provas já entregues”, o compartilh­amento de documentos e informaçõe­s complement­ares entre a PGR e demais ofícios do Ministério Público Federal estão sendo tratados “dentro dos trâmites legais”.

Na delação acertada com a PGR, Joesley disse que as contas no exterior foram abertas para depositar propinas como contrapart­ida a aportes feitos pelo Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) no Grupo J&F, controlado­r da JBS. Elas teriam sido criadas em acordo com o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, como uma espécie de “garantia” de pagamentos a serem feitos a aliados do governo petista.

Uma dessas contas foi aberta em 2009 por causa de supostos acertos ilícitos, referentes ao governo Lula. A outra, iniciada em 2010, seria vinculada a negociatas ocorridas na gestão Dilma. O saldo teria alcançado US$ 150 milhões em 2014, ano de disputa eleitoral. Os petistas já haviam negado a existência da conta no exterior.

Questionad­o se a PGR se precipitou ao fechar a colaboraçã­o com Joesley, ele respondeu que não tem conhecimen­to de tudo que foi tratado com o empresário no acordo, mas criticou a versão sobre as contas: “O cara é muito ‘bom’. Tem uma conta lá, que não consegue explicar, e conseguiu transforma­r isso numa delação”. Procurada, a Procurador­ia não comentou. / COLABOROU BEATRIZ BULLA

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RICARDO STUCKERT-8/8/2017 Evento. Lula esteve em Franco da Rocha (SP) na terça-feira

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