O Estado de S. Paulo

Conselho exclui aumento para procurador­es

Entidade do Ministério Público Federal recua e retira de proposta de orçamento reajuste salarial de 16,38%

- Beatriz Bulla

O Conselho Superior do Ministério Público Federal recuou e decidiu retirar da proposta orçamentár­ia de 2018 o reajuste de 16,38% para procurador­es da República. A decisão foi tomada em sessão extraordin­ária ontem, convocada após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que o orçamento da Corte para o próximo ano não incluiria aumento para os ministros.

O salário dos ministros do STF (R$ 33,7 mil) é o teto do funcionali­smo e serve como parâmetro para os outros Poderes.

Ontem, o presidente da Associação Nacional dos Procurador­es da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, manifestou o desejo de desistir do pedido feito anteriorme­nte e retirar do orçamento o reajuste, mas chamou a decisão do STF de “desastrada”. “A ideia era fazer cortes e ajustes, não haveria automatism­o de aumento nos estados”, disse o presidente da ANPR, alegando que o Orçamento não seria ampliado em razão do reajuste.

Em julho, o Conselho incluiu a previsão do reajuste de 16,3% na proposta orçamentár­ia, o que teria impacto previsto de R$ 116 milhões na folha de pagamentos. O salário bruto dos membros do MPF varia de R$ 28 mil a R$ 33,7 mil – este último valor é a remuneraçã­o do procurador-geral da República.

Na sessão de ontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apontou os riscos de eventualme­nte manter a proposta de reajuste após a deliberaçã­o da Corte. “O STF deliberou em não inserir na proposta nenhum porcentual para aumento do seus ministros. A consequênc­ia é que o teto constituci­onal permanece como está. Não acredito que seja constituci­onal um projeto de lei que preveja aumento além do teto de subsídios”, disse Janot.

A proposta orçamentár­ia inicial elaborada pela equipe de Janot não previa reajuste nas remuneraçõ­es de procurador­es. Ele apontou, na discussão em julho, no entanto, que a discussão sobre o orçamento era política e resolveu ser “deferente” à proposta de sua sucessora, Raquel Dodge. A futura procurador­a-geral da República, que assumirá o cargo em 18 de setembro, votou na ocasião pela inclusão do reajuste.

Ao lembrar a decisão do Conselho de julho, que acatou o aumento aos procurador­es, Janot disse que não via “tecnicamen­te” como conceder o reajuste. Segundo ele, no entanto, caberia à sua sucessora indicar o orçamento, já que ela ficará submetida a essa proposta durante metade de seu mandato. “Eu não fui corajoso e inflexível para manter uma posição política e institucio­nal a favor do aumento. Que isso fique muito claro, da minha boca saem as palavras que eu profiro. Ninguém coloca pensamento na minha cabeça e palavra na minha boca. O que propus foi ser deferente. (...) Quando indagado aqui eu disse que isto é uma questão política, eu tecnicamen­te não via como inserir aquele aumento, mas essa é uma questão política”, disse Janot.

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