‘Vencemos quando ninguém dava nada pela gente’
Técnico celebra conquista do Grand Prix, mas se diz preocupado com disputa do Sul-Americano, que vale vaga para o Mundial
O técnico José Roberto Guimarães está promovendo a renovação na seleção feminina de vôlei, que iniciou a temporada com o título no Grand Prix e parte agora para o Campeonato Sul-Americano para carimbar sua vaga no Mundial do próximo ano, no Japão. Nesta entrevista ao Estado, ele fala sobre as mudanças na equipe, de seu projeto em Barueri e deixa as portas abertas para o retorno de algumas bicampeãs olímpicas.
O que representa esse título do Grand Prix?
Apesar de já ter ganhado nove vezes, acho que o fato de ser a última edição torna a conquista especial, porque a partir do próximo ano se chamará Liga Mundial feminina. A segunda coisa é que é o início de um novo ciclo, com uma nova geração, como foi em 2005, com o aparecimento de jogadoras mais jovens, não tão conhecidas. Então o título é importante porque existe uma cobrança em função da história que o outro time construiu. Vencemos quando ninguém dava nada pela gente.
Como tem sido essa renovação da seleção feminina?
Ela vem sendo pensada há algum tempo. Em 2015, a gente dividiu um grupo para o Pan e outro para o Grand Prix. Quando montei o time de Campinas da Amil, tínhamos Natália, Tandara, Suelen e Rosamaria, que hoje estão na seleção. Então alguma coisa já estava acontecendo. Essa renovação não foi feita forçosamente, vem sendo feita adequadamente ao longo dos anos.
Dessa nova geração, quem o torcedor deve se acostumar a ver com frequência?
Citar nomes é sempre complicado. Esse time do Brasil é de operárias, eu gosto desse termo. Isso quer dizer que é um time trabalhador, que vai ganhar como equipe. Nosso time vai ter de jogar muito junto, se ajudar, terá de ser versátil para que a gente consiga um bom resultado. Nosso time não é alto, então precisa ser mais habilidoso e mais regular do que é hoje. A gente sofreu no Grand Prix, com muitas oscilações. A gente ainda tem de melhorar muito.
Você pretende contar com quais campeãs olímpicas para Tóquio-2020?
Todas elas têm ainda condições de jogar. No esporte mundial, temos muitos casos de atletas mais longevos. Eu acho que elas têm condições de jogar, mas estão servindo à seleção há muitos anos e já manifestaram o interesse em não continuar. Foram os casos da Sheilla, da Fabiana. A Jaque e a Garay ainda não se manifestaram. O mais importante para a seleção é ter uma gama maior de jogadoras disputando as posições. O fato de terem ganho a Olimpíada é muito importante, porém existe uma geração que está nascendo e que também vai brigar pelo seu lugar.
O Bernardinho abriu mão da seleção para se dedicar a apenas um projeto e você fez o inverso, continua na seleção e está em clube. Como tem sido isso?
De boca, meu contrato com a seleção vai até Tóquio. Por enquanto tem dado certo e estou conseguindo conciliar. Como os calendários de seleção e clube não batem, a não ser no Campeonato Paulista, então é mais tranquilo para poder conduzir esses dois processos. Acho importante, porque conseguimos reconstruir a base em Barueri. A cidade sempre foi um polo importante como celeiro de atletas.
Como você viabilizou o projeto do Hinode Barueri?
A criação do time da cidade era um sonho antigo meu. Entramos na Taça de Prata, depois Série B e agora estamos na Superliga. É um projeto muito importante para a continuidade do vôlei no Brasil, não vejo só como um projeto da cidade de Barueri. Acho que uma regra que poderíamos pensar em colocar na Superliga é que os times que participam teriam de obrigatoriamente ter categoria de base. É uma maneira de fomentar e investir na juventude para ter jogadoras que possam servir à seleção no futuro.
Você pôs dinheiro do bolso?
Sim. Somos um time intermediário e nosso objetivo é tentar ficar entre os quatro mais bem colocados, até porque será nosso primeiro ano na Superliga. Isso seria um feito fantástico. Mas ainda precisamos de um copatrocinador para dar sequência ao projeto que pretendemos no futuro. Um time que disputa um título de Superliga deve investir em torno de R$ 6 milhões ou R$ 7 milhões. Nosso orçamento é abaixo disso.
Na terça-feira vocês iniciam a disputa do Sul-Americano, que vale vaga no Mundial. Será outro bom teste para essa seleção?
Eu estou muito preocupado. O Brasil tem a hegemonia no campeonato há alguns anos, mas a América do Sul toda tem o Brasil como referência e todo mundo quer ganhar da gente. A Argentina, Peru, Colômbia, todas melhoraram. É só uma vaga e não fico tranquilo de maneira nenhuma. Vamos ter problemas e precisamos jogar bem para classificar.