O Estado de S. Paulo

Medida de Trump afeta siderurgia brasileira

EUA vão sobretaxar importaçõe­s de silício do Brasil em até 50%, alegando que entrada de produtos estrangeir­os enfraquece a indústria bélica do país

- Jamil Chade

O governo de Donald Trump anunciou a imposição de barreiras contra determinad­os produtos siderúrgic­os brasileiro­s. O anúncio foi feito pelo secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, e as sobretaxas cobradas pelo país poderão chegar a mais de 50%.

Nos últimos meses, os dois governos chegaram a tratar do assunto até mesmo em reuniões na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC). O Brasil queria garantias de que o processo estava correndo dentro das regras internacio­nais. O setor siderúrgic­o, um dos centros da política comercial de Donald Trump, recebeu promessas desde a campanha presidenci­al de que ganharia proteção por parte do novo chefe da Casa Branca.

Assim que o governo foi iniciado, uma série de medidas foi adotada, principalm­ente contra o aço chinês. Mas já no mês de março, Washington abriu investigaç­ões sobre o metal de sílica exportado pelo Brasil.

Nesta semana, a decisão preliminar foi a de impor uma sobretaxa contra o produto nacional, alegando que preços injustos estavam sendo cobrados pelos brasileiro­s. Empresas da Austrália e do Casaquistã­o também foram afetadas pelo novo modelo de importação. Em dezembro, as medidas definitiva­s devem ser anunciadas oficialmen­te.

Em média, todos os produtos brasileiro­s desse setor pagarão uma sobretaxa de 3,69% a partir de agora, incluindo os da empresa Dow Corning Silício do Brasil. Mas o imposto será de 52,07% para as exportaçõe­s da empresa brasileira Liga de Alumínios S.A (Liasa). O motivo da diferença de taxação teria sido a recusa da empresa em cooperar com as investigaç­ões feitas pelo governo americano sobre supostas irregulari­dades no setor.

No caso da Austrália, a cobrança será de 16,23%; para produtos com origem no Casaquistã­o a sobretaxa deve ultrapassa­r 120%.

Em 2016, o Brasil exportou US$ 60 milhões de metal de sílica. Em 2014, o volume chegou a mais de US$ 105 milhões. Mas a queixa veio da empresa Globe Speciality Metals, que tem usinas nos Estados americanos do Alabama, Nova York e Ohio.

Num comunicado de imprensa, o Departamen­to de Comércio dos Estados Unidos informou que a aplicação de sobretaxas para corrigir supostas irregulari­dades é “um foco primário da administra­ção Trump”. “Continuare­mos a rever todas as informaçõe­s relacionad­as a essa decisão”, declarou Ross. “Continuare­mos vigilantes contra atores estrangeir­os que tentem levar vantagem sobre empresário­s e trabalhado­res americanos.”

Antidumpin­g. Em menos de sete meses, Trump já iniciou 64 investigaç­ões de dumping, um aumento de 40% em comparação ao que se registrou em 2016. No ano passado, as sobretaxas foram responsáve­is por uma arrecadaçã­o de US$ 1,5 bilhão por parte do Tesouro americano.

Dados colhidos pela OMC apontam que, se em todo o mundo as medidas protecioni­stas sofrem uma queda, elas estão em alta nos Estados Unidos desde que Trump assumiu o governo.

Outra das iniciativa­s da Casa Branca é a de justificar barreiras às importaçõe­s de aço alegando a tese da “segurança nacional”. Com a entrada de produtos estrangeir­os, as usinas norte-americanas teriam sido enfraqueci­das, algo perigoso durante um eventual período de guerra em que a indústria bélica teria de recorrer a produtos importados.

Segundo o Itamaraty, a decisão é ainda preliminar e o Brasil colabora nas investigaç­ões. Para Marco Polo Lopes, do Aço Brasil, o País tem condições de abrir um painel na OMC para discussões de direitos compensató­rios. Sobre a medida que aponta o impacto das importaçõe­s sobre a segurança nacional, Lopes diz que o Brasil não deve ficar na “vala comum” dos exportador­es. A Abrafe, que representa os fabricante­s de silício metálico, não retornou.

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TASSO MARCELO/ESTADÃO-26/5/2011 Foco. Trump tem urgência em corrigir ‘irregulari­dades’ no comércio de produtos de siderurgia

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