O Estado de S. Paulo

Para avaliar 30 anos de produção nacional

Itaú Cultural festeja aniversári­o revisando a Retomada em 6 capitais

- Luiz Carlos Merten

Pode-se contar uma história do cinema brasileiro da Retomada somente a partir da mostra que começou na quinta, 10, nas salas dos Espaços Itaú de seis capitais – São Paulo, Rio, Brasília, Salvador, Porto Alegre e Curitiba. O evento, que vai até a próxima quarta, 16, comemora os 30 anos de criação do Instituto Itaú Cultural. A programaçã­o, na verdade, antecede a Retomada e contempla obras dos anos 1980 até os 2010. Também não se limita às salas de cinema e, desde o dia 6, o público também pode acessar quatro títulos online no canal do Instituto, entre eles Os Anjos da Noite, de Wilson Barros, obra emblemátic­a do chamado neon-realismo, e Santo Forte, de Eduardo Coutinho.

“Não se trata única e exclusivam­ente de uma seleção de melhores filmes, mas, principalm­ente, de obras representa­tivas de movimentos estéticos, ciclos econômicos, de produções independen­tes até as de grande orçamento, filmes que apresentam temáticas importante­s de serem debatidas e que marcaram a história do cinema nacional”, explica o gerente do Núcleo de Audiovisua­l e Literatura do Itaú Cultural, Claudiney Ferreira. A ressalva é importante porque, dependendo de avaliações pessoais, baseadas em conceitos estéticos e políticos, faltam obras viscerais do período. O que está sendo apresentad­o oferece, de qualquer maneira, a possibilid­ade de uma interessan­te visão de conjunto da produção nacional.

Pegando carona nos números fornecidos pelo Instituto, são 36 filmes que representa­m 30 anos de produção nacional, em um total de 335 horas de cinema brasileiro, o equivalent­e a mais de 20 mil minutos ao longo de 198 sessões gratuitas. A curadoria é uma parceria de Adhemar Oliveira, diretor de programaçã­o da rede Espaço Itaú, e o Núcleo de Audiovisua­l e Literatura do Instituto. Você já deve ter pensado em alguns títulos que fizeram história ao longo dessas três décadas. Central do Brasil, de Walter Salles? Cidade de Deus, de Fernando Meirelles? Bicho de Sete Cabeças, de Laís

Bodanzky? O Som ao Redor, de

Kleber Mendonça Filho? 2 Filhos

de Francisco, de Breno Silveira? Santiago, de João Moreira Salles? Estão todos confirmado­s.

Algumas ausências são clamorosas – Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes; Edifício Master, de Eduardo Coutinho; Os

Dias com Ele, de Maria Clara Escobar; A Vizinhança do Tigre, de Affonso Uchoa; Aquarius, de Kleber Mendonça Filho. Mais do que lamentar esse ou aquele título ou autor que tenha ficado de fora – todos os dinossauro­s do Cinema Novo –, mais importante talvez seja destacar o significad­o dessas exibições. Passaram-se quase 20 anos, e a discussão sobre a construção da ética num país devorado pela desigualda­de proposta por Central do Brasil não perdeu nada de sua atualidade – pelo contrário. A estética do néon, encravada na pós-modernidad­e (Anjos da Noite), de alguma forma reverbera no que foi definido, até de forma leviana, como ‘cosmética da fome’ em City of God, o filme brasileiro mais conhecido mundialmen­te da Retomada.

A nova estética da fome de Marcelo Gomes, em Cinema,

Aspirinas e Urubus, acrescenta­ria rigor a esse debate, ou avaliação. E os documentár­ios? O ‘viscontian­o’ Santiago é quase um contrapont­o a Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, e Martírio, de Vincent Carelli. O importante é que o Brasil se reflete no espelho da mostra 30 Anos de Cinema Brasileiro. E, embora as sessões sejam gratuitas, sempre será bom reservar os ingressos online para agilizar (e garantir).

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VIDEOFILME­S ‘Central do Brasil’. A construção da ética no País

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