O Estado de S. Paulo

Mônica precisa furar a bolha que a prende na esfera da perfeição

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Mônica Salmaso precisava se banhar neste rio. Seus discos, desde AfroSambas, com o violonista Paulo Bellinati (1995), são todos bem cuidados, bem acabados, com músicos excelentes, escolhas criteriosa­s e, por vezes, de alcance restrito. Não o alcance de mídia, discussão que seria chuva no molhado aqui, mas o das almas.

Há um certo envernizam­ento vocal que, quando se coloca pelo estudo que esta cantora tem sobre tudo o que faz, o irônico preço a se pagar parece ser o de esfriá-lo. É bom ouvi-la também assim, entregue sem grandes preocupaçõ­es, amparada por arranjos delicados, como frequentem­ente aparecem em seus discos, mas sendo guiada apenas por uma música que vive em seu sertanejo.

Mônica precisa estourar a bolha que a segura em uma certa esfera. Ela, a esfera, já é extensa e qualificad­a, lhe garante uma base de fãs criterioso­s que sustentam sua carreira com tranquilid­ade e colocam em sua agenda shows suficiente­s para garantir seu sustento e mostrar sua arte. Mas ainda é pouco.

Sua qualidade e seu tempo de estrada a legitimam para que chegue a um público maior e se torne uma personalid­ade de espaço e reconhecim­ento lado a lado com as vozes festejadas de seu tempo.

Não é o caso de mudar rumos, escolher repertório­s pop, vender a alma às negociatas de mídia convencion­al ou se aliar aos web papas dos novos tempos. Por manterse inabalável em seu caminho, Mônica tem um raro caráter artístico. Só canta uma canção depois de fazê-la passar por sua voz sentindo que poderia lhe dar uma nova vida. Ainda assim, falta algo, e algo que pode estar na alma de si mesma.

Aos que não seguem sua carreira com mais proximidad­e fica difícil se lembrar de uma música pela qual ela seja imediatame­nte reconhecid­a. Falta termos algo de Mônica Salmaso em nossas memórias afetivas, um caminho que pode se tornar mais longo com interpreta­ções de excelência, excessivam­ente bem tratadas, e de canções já existentes. Caipira, assim, a torna mais próxima, mais humana e presente mesmo depois que o disco chega ao fim. Mônica Salmaso merece chegar mais longe.

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MÔNICA SALMASO ‘Caipira’ Biscoito Fino. Preço médio: R$ 32

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