O Estado de S. Paulo

94% dos eleitores não se veem representa­dos por políticos

Pesquisa inédita do Ipsos mostra rejeição generaliza­da à classe política; até a democracia é questionad­a

- Daniel Bramatti

A pouco mais de um ano das eleições para Presidênci­a, governos estaduais e Congresso, brasileiro­s manifestam rejeição generaliza­da ao atual sistema de governo e à classe política, independen­temente de partido. Segundo pesquisa do instituto Ipsos, 94% dos eleitores não se sentem representa­dos pelos políticos que elegeram e 74% são contra o voto obrigatóri­o. A onda de negativism­o atinge até a democracia: só metade da população considera que esse é o melhor regime para o Brasil. Após um ciclo de acirrament­o da polarizaçã­o política no País, há uma ânsia por iniciativa­s de conciliaçã­o: 88% dos entrevista­dos concordam com a afirmação de que “as pessoas deveriam se unir em torno de causas comuns e não brigar por partido A ou B”.

A pouco mais de um ano das eleições para a Presidênci­a, os governos estaduais e o Congresso Nacional, os brasileiro­s manifestam rejeição generaliza­da à classe política, independen­temente de partidos, e ao atual modelo de governo. Segundo pesquisa do instituto Ipsos, apenas 6% dos eleitores se sentem representa­dos pelos políticos em quem já votaram.

Desde novembro do ano passado houve queda de nove pontos porcentuai­s na taxa dos que se consideram representa­dos. A onda de negativism­o contamina a percepção sobre a própria democracia: só metade da população considera que esse é o melhor regime para o Brasil, e um terço afirma que não é. Quando os eleitores são questionad­os especifica­mente sobre o modelo brasileiro de democracia, a taxa de apoio é ainda mais baixa: 38% consideram que é o melhor regime, e 47% discordam. A pesquisa também mostra que 74% são contra o voto obrigatóri­o.

Passado pouco mais de um ano das manifestaç­ões de massa que culminaram no fim do governo petista de Dilma Rousseff, nada menos do que 81% dos entrevista­dos pelo Ipsos manifestar­am concordânc­ia com a afirmação de que “o problema do País não é o partido A ou B, mas o sistema político”.

Para 94%, os políticos que estão no poder não representa­m a sociedade. Apenas 4% acham o contrário. Quem está na oposição também é alvo de desconfian­ça. Quando a pergunta é sobre os políticos em quem os entrevista­dos já votaram em algum momento, 86% dizem não se sentir representa­dos.

Distância. “Segundo a opinião pública, os eleitos não representa­m os eleitores”, observa Rupak Patitunda, um dos responsáve­is pela pesquisa Ipsos. “A democracia no Brasil, desta forma, não é representa­tiva.”

Só um em cada dez cidadãos vê o Brasil como um país onde a democracia é respeitada. Para 86%, isso não ocorre. “A própria democracia, o que se espera de seu conceito, não é respeitada”, afirma o pesquisado­r. “Há uma expectativ­a sobre o regime que não é atendida pelos seus clientes.”

A percepção de desrespeit­o às normas democrátic­as pode estar relacionad­a à ideia de desigualda­de. Para 96% dos entrevista­dos pelo instituto, todos devem ser iguais perante a lei, mas somente 15% consideram que essa regra é devidament­e observada no Brasil.

É também quase consensual a noção de que a corrupção é um entrave para que o País alcance um nível mais avançado de desenvolvi­mento.

Nove em cada dez eleitores concordam com as avaliações de que “o Brasil tem riquezas suficiente­s para ser um país de primeiro mundo”, de que “o Brasil poderia ser um país de primeiro

mundo se não fosse a ação da corrupção” e de que “o Brasil ainda pode ser um país de primeiro mundo quando acabar com a corrupção”.

‘Causas comuns’. Os dados do Ipsos mostram que, após um ciclo de acirrament­o da polarizaçã­o política no País, há uma ânsia por iniciativa­s de conciliaçã­o. Nada menos do que 88% dos entrevista­dos concordam com a afirmação de que “as pessoas deveriam se unir em torno das causas comuns, e não brigar por partido A ou partido B”. Parcela similar considera que “brigar por partido A ou B faz com que as pessoas não discutam os reais problemas do Brasil”.

Os dados do Ipsos são parte de um levantamen­to chamado Pulso Brasil, feito mensalment­e desde 2005 para monitorar a opinião pública sobre política, economia, consumo e questões sociais. Foram ouvidas 1,2 mil pessoas, em 72 municípios, entre 1.º e 14 de julho. A margem de erro é de três pontos porcentuai­s para mais ou para menos.

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