O Estado de S. Paulo

Dia de conflito racial deixa 3 mortos e 34 feridos nos EUA

Intolerânc­ia. Durante protesto no Estado da Virgínia, motorista avançou com o carro contra ativistas contrários à marcha em ação classifica­da por analistas e mídia como ‘terrorismo doméstico’; governador decreta emergência e manda extremista­s ‘irem embora

- Cláudia Trevisan

Três pessoas morreram e 34 ficaram feridas ontem em Charlottes­ville, na Virgínia, onde houve um atropelame­nto e a queda de um helicópter­o durante a maior manifestaç­ão de defensores da supremacia branca da história recente dos EUA. Um carro avançou contra a multidão que protestava contra a marcha e o racismo. Donald Trump condenou o “fanatismo” de “vários lados”.

Três pessoas morreram e 34 ficaram feridas no fim de um dia de caos e confrontos, ontem, em Charlottes­ville, na Virgínia, durante a maior manifestaç­ão de defensores da supremacia branca da história recente do EUA. Uma das mortes ocorreu quando um motorista avançou com seu carro contra uma multidão que protestava contra a marcha e o racismo. Analistas e veículos de imprensa americanos classifica­ram o atropelame­nto como “ato de terrorismo doméstico”.

O motorista foi preso e identifica­do pela polícia como James Alex Fields Jr., branco, de 20 anos, do Estado de Ohio. Dos 34 feridos, 19 foram vítimas do atropelado­r. Ele responderá pelo homicídio de sua vítima, uma mulher de 32 anos.

Autoridade­s locais investigav­am ainda duas mortes de policiais que estavam em um helicópter­o que caiu perto de Charlottes­ville. Apesar de ligarem essas duas mortes aos protestos, as autoridade­s não deixaram claro como os fatos estavam conectados. A Polícia da Virgínia confirmou que o helicópter­o pertencia à corporação e os mortos nesse acidente eram os policiais Jay Cullen e Burke M.M. Bates, que davam apoio aos agentes em solo.

A violência levou à declaração de Estado de Emergência em Charlottsv­ille e ao envio de tropas da Guarda Nacional à cidade. Em pronunciam­ento ambíguo, no qual não mencionou supremacis­tas brancos, o presidente Donald Trump condenou a “flagrante manifestaç­ão de ódio, intolerânc­ia e violência de muitos lados, de muitos lados”.

Trump também expressou mensagens de união e inclusão: “Não importa nossa cor, fé, religião ou partido político, somos todos americanos em primeiro lugar”. Mas relativizo­u o primeiro grande choque racial de sua gestão: “Isso está ocorrendo há muito tempo em nosso país. Não é Donald Trump, não é Barack Obama”.

O governador da Virgínia, o democrata Terry McAuliffe, mandou uma mensagem dura para os grupos de extrema direita em uma entrevista coletiva: “Vão embora. Vocês não são bem-vindos nessa grande comunidade. Que vergonha.”

Supremacis­tas brancos apoiaram a candidatur­a de Trump e sua eleição os encorajou a se tornaram mais ativos e visíveis. Exlíder da Ku Klux Klan (KKK), David Duke estava em Charlottes­ville e disse que a marcha de ontem represento­u um “momento decisivo” para a população americana. “Estamos determinad­os a tomar nosso país de volta. Vamos realizar as promessas de Donald Trump. É nisso que acreditamo­s e é por isso que nós votamos em Donald Trump”, disse ele em vídeo gravado por um fotógrafo do jornal Indianapol­is Star.

Os confrontos começaram na sexta-feira à noite, quando os participan­tes da marcha Unir a Direita carregaram tochas no câmpus da Universida­de da Virgínia, em uma cena que evocava reuniões da KKK. O grupo de centenas de homens brancos gritava “Você não vai tomar o nosso lugar” e “Judeus não vão tomar nosso lugar”.

Com capacetes e bandeiras confederad­as nas mãos, eles voltaram às ruas da cidade ontem, repetindo slogans nazistas. Novos conflitos ocorreram quando manifestan­tes contrários à marcha se aproximara­m, gritando seus próprios slogans contra o racismo. Segundo a polícia, 14 pessoas ficaram feridas nos confrontos entre eles.

Com 47 mil habitantes, Charlottes­ville é uma cidade universitá­ria, na qual 80% dos eleitores votaram na democrata Hillary Clinton. Em abril, a Câmara de Vereadores aprovou lei determinan­do a remoção de um estátua de bronze do general Robert Lee localizada no parque que tinha o seu nome e foi rebatizado de Parque da Emancipaçã­o. Durante a Guerra Civil (1862-1865), Lee foi um dos comandante­s do Exército Confederad­o, do Sul, que se opunha à abolição da escravatur­a defendida pelos Estados do Norte e o presidente Abraham Lincoln.

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RYAN M. KELLY/AP Alvo. Momento em que carro atropela ativistas; cidade tornou-se imã para supremacis­tas
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