O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde

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Joesley na mira

PF, Ministério Público do DF, CVM e até mulher de empresário ameaçam acordo da JBS.

Atoda hora surge um dado novo ameaçando as benesses mais do que camaradas do acordo de delação premiada entre a PGR e os irmãos Joesley e Wesley Batista, da J&F. A opinião pública ficou perplexa com a facilidade com que eles corrompera­m todo mundo, prepararam uma cilada para o presidente da República e se mandaram para os EUA, com passaporte­s, avião, lancha e luxo. Agora, é a própria Lava Jato que se insubordin­a contra isso.

O primeiro recado foi do plenário do Supremo, que abriu uma porta para a revisão do acordo dos Batista. Em seguida, a PF divulgou relatório atestando a inutilidad­e da delação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado contra os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney. Foi considerad­o a primeira de uma série de contestaçõ­es aos acordos, inclusive dos irmãos da J&F. E foi mesmo.

Logo depois, veio à tona outro parecer da PF afirmando que três delatores-chave da Lava Jato apontaram “visões conflitant­es” e “em nada auxiliaram” o inquérito contra o ex-ministro Antonio Palocci: o doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa e o operador de propinas Fernando Baiano. Foi mais um sinal de alerta para Joesley e Wesley Batista.

Agora, uma bomba, ou uma briga em família. A própria mulher de Joesley, jornalista Ticiana Villas Boas, desmente a versão do lobista da JBS Ricardo Saud de que, num jantar no apartament­o do casal, houve acertos de propina para o deputado Fábio Faria (PSD-RN), casado com Patrícia Abravanel, do SBT. Em telefonema gravado, Ticiana diz a Patrícia que é “um absurdo” e se oferece para testemunha­r a favor do casal.

Para piorar, o procurador Ivan Cláudio Marx, do DF, diz que Joesley falou só por falar de uma conta ilícita de US$ 150 milhões para os ex-presidente­s Lula e Dilma Rousseff, porque não há nenhuma prova disso. Na sua delação, Joesley não apenas citou os dois e os valores da propina como especifico­u que seriam contrapart­ida para aportes bilionário­s do BNDES para o Grupo J&F. Mas não provou.

A conclusão do procurador Marx, designado para cuidar do caso na primeira instância, pode ser muito boa para Lula e Dilma, mas é muito ruim para os até agora impunes Joesley e Wesley. Primeiro, porque mentiras podem gerar a anulação dos benefícios do acordo de delação. Segundo, porque uma das principais críticas é que eles focaram em Temer e deixaram de fora Lula.

A J&F só virou uma potência mundial no governo Lula, que abriu os cofres do BNDES para os “campeões nacionais” e foi de uma generosida­de ímpar com os irmãos goianos. Mas, na delação, Joesley só gravou e prejudicou Temer, que pouco conhecia e cujo governo havia negado um salto importante do grupo: a transferên­cia oficial da sede para a Irlanda.

É legítimo supor que Joesley citou as contas de Lula e Dilma porque tinha de falar qualquer coisa contra eles, mas sabendo que não haveria consequênc­ias. Uma conta sem nomes? Espertamen­te, teria fingido delatar os dois, criando uma história que daria “carne aos leões” da Lava Jato e viraria pó na justiça. Teria sido deliberada­mente algoz de Temer, protegendo seus reais parceiros. Esse é um dos nós do acordo de delação, lembrando que, com uma eventual revisão, as benesses caem, mas o efeito das delações continua.

Há, ainda, a CVM contra operações de câmbio e de ações da JBS justamente quando explodiu a delação. A defesa diz que foi “coincidênc­ia”, mas é difícil derrubar a suspeita de “informação privilegia­da”, que também pode atingir o acordo de delação. A velha ganância ameaça as espetacula­res vantagens que Joesley e Wesley receberam ao tentar derrubar Temer. O presidente escapou da guilhotina, mas os irmãos podem estar a caminho dela.

PF, MP do DF, CVM e até mulher de Joesley ameaçam acordo da JBS

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