O Estado de S. Paulo

Vera Magalhães

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Lulécio 2018

Após briga para ver quem era mais sujo, PT e PSDB tentam abraço de afogados.

Em 2002, quando Lula ainda batalhava contra o estigma de eterno derrotado para chegar ao Planalto vencendo o PSDB, ficou famosa a dobradinha Lulécio, um arranjo informal em Minas para que eleitores sufragasse­m ao mesmo tempo o petista para a Presidênci­a e Aécio Neves para o governo.

O fato é que o slogan colou, e o tucano José Serra foi derrotado em Minas, fenômeno que se repetiria quatro anos depois, com Geraldo Alckmin.

Desde a vitória de Lula, até as emas do Alvorada comentavam que, graças à política de boa vizinhança nas Alterosas, Aécio conseguira manter Dimas Toledo à frente de Furnas, estatal que é federal, mas cuja influência política local é imensa.

O fato foi explorado na época do mensalão, mas não teve consequênc­ias, surgiu na forma de insinuaçõe­s na virulenta disputa entre Aécio e Dilma Rousseff em 2014 e foi ressuscita­do e transforma­do em inquérito pela Lava Jato. Primeiro foi o doleiro Alberto Youssef a acusar Aécio de receber propina em Furnas pelas mãos de Dimas. Depois veio a delação de Delcídio Amaral, que declarou ter ouvido de Lula que Dimas deveria estar roubando muito, dada a quantidade de pessoas de diferentes grupos que pedira sua permanênci­a.

Na semana que passou, a Polícia Federal recomendou o arquivamen­to do inquérito de Furnas por falta de provas contra Aécio.

Teve peso fundamenta­l para livrar o tucano o depoimento de petistas como o próprio Lula e o ex-ministro e condenado na Lava Jato José Dirceu. Assim, está reeditada, 15 anos depois e com ambos investigad­os na Lava Jato, a dobradinha Lulécio.

Em um depoimento típico dele, Lula disse que não sabia de nada sobre a suposta investida de Aécio para manter o diretor de Furnas no cargo. Usando a mesma retórica com que se esquiva de tudo que lhe é imputado, o petista disse que, se alguém pediu por Dimas a algum ministro, ninguém lhe disse nada. Assim como fizeram Delúbio Soares no mensalão, ou dona Marisa na negociação do triplex.

Mas como é impossível até mesmo a um cara de pau como Lula negar a própria voz, há que se lembrar conversa sua com o senador Lindbergh Farias em março de 2016, intercepta­da em grampo autorizado pela Justiça, em que ele diz que, se Aécio não fosse implicado na delação da Andrade Gutierrez, seria sinal de “farsa”.

Afinal, qual Lula fala a verdade? O que demonstra ter conhecimen­to de coisas compromete­doras contra Aécio ou o que o inocenta?

O fato é que, depois de uma guerra de lama para tentar provar quem era mais sujo – que começou na campanha de 2014, prosseguiu com a guerra de ações na Justiça Eleitoral e chegou ao ápice com o impeachmen­t –, PT e PSDB resolveram, em conjunto com o PMDB, dar um abraço de afogados para evitar que a Lava Jato extermine a todos.

Basta ver que, além dos testemunho­s benevolent­es dados por pessoas outrora empunhadas em destruir os tucanos, como Lula e Dirceu, reina um silêncio eloquente da sempre estridente turma do PT no Senado desde que Aécio voltou à Casa.

Mais: a carga feita contra duas delações em particular, a de Delcídio e a de Sérgio Machado, resolve com uma só cajadada acusações contra petistas, tucanos e peemedebis­tas, Lula, Aécio e Michel Temer à frente.

Para que funcione a concertaçã­o Lulécio 2018, é fundamenta­l o novo “recall” de delações preparado pela equipe da futura procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, que tem as duas delações-chave na mira.

Mitigado o peso das delações e arrumadas as condições para garantir o financiame­nto das campanhas no ano que vem, o triunvirat­o partidário que se reveza no mando da política brasileira desde a redemocrat­ização espera conseguir não ser extirpado do mapa nas eleições. De mãos dadas.

Após briga para ver quem era mais sujo, PT e PSDB tentam abraço de afogados

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