O Estado de S. Paulo

PROPOSTA ‘RECICLA’ MAIS DA METADE DE ARTIGOS DE 2015

De 51 artigos alterados há 2 anos, 27 aparecem novamente em relatório do deputado Vicente Cândido apresentad­o à comissão da reforma política

- Thiago Faria /

Aproposta de reforma política em debate na Câmara, se aprovada, vai alterar mais da metade dos artigos que já passaram por mudanças na minirrefor­ma eleitoral de dois anos atrás. Na ocasião, deputados e senadores da atual legislatur­a aprovaram medidas como limite de gasto de campanhas, prazos mais curtos para propaganda eleitoral e novas regras para doações.

No total, 51 artigos do Código Eleitoral, da Lei dos Partidos Políticos e da Lei das Eleições foram alterados pelo projeto aprovado em setembro de 2015. Desses itens, 27 aparecem novamente no relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP) apresentad­o à comissão especial da reforma política – o texto ainda precisa ser aprovado nos plenários da Câmara e do Senado.

O clima de déjà-vu inclui ainda propostas que foram rejeitadas na época e agora voltam com força, como a adoção do distritão como modelo eleitoral para disputas parlamenta­res. Na ocasião, o sistema em que os mais votados em cada Estado e no Distrito Federal são eleitos para a Câmara e Assembleia­s Legislativ­as foi rejeitado por margem apertada, de 57 votos.

O modelo era defendido pelo então presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pelo atual, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que foi relator da proposta. Hoje, Maia é crítico ao distritão e defende o distrital misto, que combina voto majoritári­o (os mais votados são eleitos) com o proporcion­al, em que o eleitor vota em partidos e estes preenchem as vagas com os primeiros nomes em uma lista predetermi­nada.

Atualmente, críticos do distritão veem no sistema uma forma de evitar renovação da Câmara, favorecend­o os que já são conhecidos e limitando o número de candidatos. A medida também volta a ser debatida em meio ao aprofundam­ento das investigaç­ões da Lava Jato e em um cenário em que vários parlamenta­res temem perder o foro privilegia­do.

Mudanças.

Entre as mudanças propostas no texto que foi aprovado há dois anos estão desde a antecipaçã­o da data em que os partidos terão para escolher seus candidatos (de 5 de agosto para 20 de julho) até alterações mais significat­ivas, como a fonte de recursos para as campanhas eleitorais.

Na ocasião, deputados derrubaram decisão do Senado e mantiveram a permissão para doação de empresas. A medida, porém, foi vetada pela então presidente Dilma Rousseff atendendo a uma determinaç­ão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou a fonte de financiame­nto como inconstitu­cional. Agora, a discussão é sobre a criação de um fundo eleitoral com dinheiro público para bancar as campanhas. A divergênci­a é a fonte do recurso – se sairia totalmente do Tesouro ou se usaria parte de verba já destinada a partidos e fins eleitorais.

Há ainda inovações que visam a adequar a legislação às novas tecnologia­s. Um dos itens da proposta de Cândido, por exemplo, permite a propaganda paga de candidatos na internet, até um determinad­o limite. Atualmente, a propaganda virtual paga é proibida.

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