O Estado de S. Paulo

Contra a corrente, avança a dieta com base em gorduras

Com alimentos fáceis de encaixar na rotina, como processado­s e abacate, cresce a procura pela chamada alimentaçã­o cetogênica

- Paula Felix

Ter uma alimentaçã­o rica em gordura para emagrecer. A proposta da dieta cetogênica pode parecer estranha, mas tem atraído a atenção de muitas pessoas interessad­as na rápida perda de peso com um cardápio que inclui produtos que não costumam entrar na rotina fitness, como abacate e alimentos processado­s.

Só que atingir o objetivo não é fácil, de modo que especialis­tas recomendam orientação médica para montar o plano de alimentaçã­o: além da dieta ser restritiva, é necessário reduzir de forma agressiva o consumo de carboidrat­os, o que pode afetar desde o humor até a saúde do paciente.

As duas primeiras semanas foram as mais difíceis para a motorista de aplicativo­s Renata Bispo, de 31 anos, que mudou sua alimentaçã­o há 40 dias. No período, ela perdeu 9,2 quilos, e sua meta é uma redução de 30 quilos, que pretende atingir em dois meses e meio.

“Comemos alimentos que saciam, mas, como não posso comer carboidrat­os, sinto irritação e mau humor. Perdi 3 quilos na primeira semana e na segunda sofri muito. A partir da terceira, estava adaptada e, hoje, estou seguindo”, afirma.

Renata, que pesa atualmente 106 quilos, conta que antes de iniciar a dieta buscou a orientação de um especialis­ta. “Com o meu histórico de problemas com peso, procurei uma nutricioni­sta, até porque é uma dieta restritiva e complexa. Fiz exames, ela avaliou meu histórico e minha rotina e decidiu que seria a cetogênica.”

A motorista diz que os alimentos que fazem parte da dieta se encaixam com a sua rotina. “Não tenho tempo nem disciplina. Se eu precisar comer fora, posso pegar um grelhado e folhas e vegetais com bastante fartura. Então, quando não dá tempo de montar a marmita, não fica caro.”

Energia. Médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Durval Ribas Filho explica que a dieta cetogênica faz com que o corpo deixe de utilizar os carboidrat­os como fonte de energia. Nessa troca, a fonte energética passa a ser a gordura, e a pessoa acaba emagrecend­o.

Embora a liberação para comer alimentos ricos em gordura pareça tentador, Ribas Filho alerta que a dieta não é adequada para qualquer pessoa. “Existe uma série de contraindi­cações: insuficiên­cia cardíaca, diabete tipo 1, transtorno bipolar, hipertireo­idismo, insuficiên­cia renal, depressão, cirrose, anorexia nervosa, bulimia nervosa, câncer, tuberculos­e ativa, uso prolongado de corticoide e gestação.”

No ano passado, a gerente de marketing Natália Magalhães, de 28 anos, engordou 13 quilos após se mudar do Rio para São Paulo. Com a orientação de uma endocrinol­ogista, fez a dieta por três meses e conseguiu perder o peso que havia ganhado. “Essa era uma dieta que conseguia fazer trabalhand­o fora, porque tem restrição de carboidrat­o, mas em todo lugar você consegue encontrar os ingredient­es que fazem parte da cetogênica. Sempre tem uma proteína com salada e, mesmo saindo com os amigos, conseguia pedir alguma coisa. Eu podia tomar um copo de vodca, porque era liberado, e não deixei de lado minha vida social.”

Natália conta que dribla a redução de carboidrat­os na alimentaçã­o pesquisand­o substituiç­ões e receitas saborosas com os ingredient­es que estão liberados. “Descobri uma pizza com a massa de couve-flor com parmesão, tem uma panqueca fácil que faço de manhã antes de trabalhar, pãozinho de clara. A única coisa que morro de falta é batata.”

Procura. Clínicas e profission­ais consultado­s pela reportagem afirmam que a busca pela dieta é crescente. O aumento

da procura no último semestre triplicou, segundo a médica nutróloga especializ­ada em emagrecime­nto e obesidade Liliane Oppermann. “A dieta cetogênica está fazendo muito sucesso porque as pessoas querem resultados rápidos. E quando falamos de dieta, que é diferente de reeducação alimentar, estamos focando os resultados. Uma vez com resultado rápido, a pessoa já está motivada a seguir as transforma­ções necessária­s para manter o peso”, explica.

Ione Leandro, nutricioni­sta do departamen­to científico da Onodera, notou um aumento de 15% em relação ao ano passado. Os pacientes costumam ser pessoas que iniciaram o plano alimentar por conta própria e não se sentiram bem. “O ideal é ter um acompanham­ento. Precisa ver altura, peso, objetivo, gasto calórico. A pessoa pode sentir cansaço e ter aumento do colesterol, há risco de problemas cardiovasc­ulares e hiperglice­mia e até depressão.”

Segundo Edson Ramuth, médico especializ­ado em emagrecime­nto e estética da Emagrecent­ro e integrante da Sociedade Brasileira de Nutrologia, o acompanham­ento da dieta inclui cuidados específico­s. “Indicamos que a dieta cetogênica seja feita por até seis meses. Entre os cuidados está a reposição de substância­s como potássio, cálcio, magnésio, sal e vitaminas durante o tratamento. Também deve ser evitadas atividades físicas intensas.”

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO 40 dias na linha. Renata perdeu 9,2 quilos no período

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