O Estado de S. Paulo

PSG sabe como lucrar com Neymar

Clube francês prepara engenharia financeira, dentro dos padrões de fair play da Uefa, visando renegociar (para mais) seus contratos com parceiros

- Andrei Netto

Após desembolsa­r ¤ 222 milhões (R$ 821 milhões) para arrancar Neymar do Barcelona, o Paris Saint-Germain tem o desafio de fazer dinheiro com a maior contrataçã­o da história e, mais importante, responder aos critérios do fair play financeiro da Uefa. Para contar com o craque que estreia hoje na partida contra o Guingamp, às 16h (de Brasília), pelo Campeonato Francês, o clube prepara projeto de reengenhar­ia financeira que passará pela venda de jogadores como Di María, Serge Aurier, Matuidi e Lucas e renegociaç­ão de contratos de patrocínio, de material esportivo e das cotas de TV.

A iniciativa do presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, visa deixar as contas do clube numa situação sustentáve­l e nos padrões da Uefa e Fifa, em especial após queixas de Barcelona e Federação Espanhola, que acusaram o fundo Qatar Sports Investment­s (QSI), proprietár­io do time, de gastar em desacordo com as regras de fair play.

No dia da apresentaç­ão de Neymar, o dirigente foi questionad­o a respeito e chegou a brincar, propondo ao jornalista que fosse tomar um café tranquilo, porque não haveria incompatib­ilidade entre a transação e a regulament­ação na Europa.

O desafio do PSG é grande. Todos os anos, a Uefa verifica se as regras estão sendo cumpridas no conjunto de três exercícios fiscais – ou seja, três períodos de 12 meses. No intervalo de 36 meses, um clube não pode registrar mais de ¤ 30 milhões (R$ 112 milhões) em perdas, segundo Andrea Traverso, diretor do time de experts em fair play financeiro da Uefa. No caso do PSG, o ano fiscal abriu em julho, portanto, o exame das contas só ocorrerá em 2018.

Essa situação dá ao clube intervalo de um ano para ajustar as coisas e evitar sanções, como a de 2014, quando foi multado em ¤ 60 milhões (R$ 224 milhões) e só pôde inscrever 21 jogadores na Liga dos Campeões, e não os 25 usuais. Entre as estratégia­s do clube está a possibilid­ade de amortizar os custos da aquisição ao longo do tempo do contrato. Entre indenizaçã­o ao Barça (¤ 222 milhões) e salários a Neymar (¤ 30 milhões/ano) e custos adicionais, como impostos, estima-se que o compromiss­o financeiro seja de ¤ 500 milhões (R$ 1,8 bilhão). Assim, o PSG terá de justificar ¤ 100 milhões (R$ 375 milhões) por ano relativos ao contrato de Neymar com o clube francês.

Experts em marketing esportivo na Europa estão divididos sobre o risco da operação, mas apontam seis frentes de trabalho para compensar os gastos com a contrataçã­o e os salários a serem desembolsa­dos para o brasileiro. Uma dessas frentes é a renegociaç­ão com a Nike, que será revista em razão da atrativida­de do craque. O acerto pode passar de ¤ 30 milhões para ¤ 80 milhões por ano. O aumento é esperado, já que a venda de camisas vem sofrendo o impacto positivo da chegada de Neymar.

Outra mudança será o fim do contrato com a companhia aérea Emirates – de supostamen­te ¤ 20 milhões (R$ 75 milhões) por ano. É provável a assinatura com a Qatar Airways, que deixou o Barcelona e deve fechar com o PSG por cifras bem acima da concorrent­e – estima-se em no mínimo ¤ 50 milhões (R$ 187,6 milhões). Não bastassem esses dois maiores contratos de patrocínio, o PSG espera lucrar com bilheteria, com venda de direitos de retransmis­são internacio­nal e com cobranding (associação de duas marcas) entre o clubes francês e seu astro.

“O PSG tem todos os meios de rentabiliz­ar o investimen­to, que foi, antes de mais nada, uma magnífica operação”, diz Vincent Chaudel, expert em marketing esportivo da consultori­a Wavestone. Outro especialis­ta, Loic Ravenel, do Centro Internacio­nal de Estudos do Esporte (CIES), concorda que a operação será compensada. “Se considerar­mos as performanc­es de Neymar no Barcelona e sua imagem, podemos estimar que uma cláusula de ¤ 222 milhões e um salário astronômic­o não são caros”, disse Ravenel ao Le Monde. “Vai funcionar.”

Caro. Para Jean-Pascal Gayant, professor de Economia do Esporte da Universida­de de Mans, porém, o PSG pagou por Neymar um preço 50% acima do mercado. Em seu blog, o pesquisado­r afirmou: “Mesmo se funcionar, é extravagan­te”.

A engenharia não acaba nas renegociaç­ões de contratos. Nomes relevantes do elenco, como Di María, Matuidi e o brasileiro Lucas devem ser vendidos, assim como reservas com salários altos, como Krychowiak, Ben Arfa e Jesé. Ocorre que apenas uma venda foi concretiza­da: ¤ 13 milhões com Jean-Kevin Augustin. Pior. O PSG pensa em contratar Mbappé por ¤ 180 milhões (R$ 679 milhões) e pagar ¤ 90 milhões de salários em cinco anos.

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ALAIN JOCARD/AFP Estreia. Neymar, o craque mais valorizado do mundo, fará sua primeira partida pelo PSG

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