O Estado de S. Paulo

Déficit maior em 2017 e 2018 dificulta ajuste

Promessa do governo de pôr as contas no azul em 2020 está cada vez mais complicada

- Idiana Tomazelli Eduardo Rodrigues

A ampliação do rombo previsto para 2017 e 2018 tornará ainda mais difícil a tarefa do governo de pôr as contas no azul já em 2020, como tem prometido a área econômica. Analistas apontam que a lenta recuperaçã­o da arrecadaçã­o e o cresciment­o de gastos obrigatóri­os, sobretudo com a Previdênci­a, continuarã­o a pressionar as contas, e medidas como adiar o reajuste de servidores do Executivo vão deixar uma “herança maldita” para o próximo governo.

Para fechar as contas do ano que vem, o governo vai propor transferir os aumentos que seriam dados no início de 2018 para janeiro de 2019. A economia esperada é de cerca de R$ 9 bilhões, mas economista­s veem só um adiamento do problema.

“Não adianta apenas empurrar despesas para os anos seguintes. Até porque o próximo governo terá de conviver com essa herança e obedecer um teto de gastos que começará a ficar mais restritivo”, diz Fábio Klein, da Tendências.

Em meio ao desgaste de mudança na meta, a equipe econômica busca dar sinais de que a trajetória fiscal vai melhorar a partir de 2019, com a virada das contas para o azul já no ano seguinte. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a determinaç­ão é manter as estimativa­s das contas públicas para esse período, com a diferença entre receitas e despesas ainda negativa em R$ 65 bilhões em 2019 e já positiva em R$ 10 bilhões em 2020.

O objetivo é mostrar compromiss­o com o ajuste fiscal e evitar uma explosão da dívida pública. Para cumprir esses resultados, porém, o governo tem transmitid­o a mensagem de que é imprescind­ível a aprovação da reforma da Previdênci­a.

A avaliação da equipe econômica é de que a piora das metas de 2017 e 2018 não compromete a trajetória do ajuste fiscal. Mas economista­s discordam e avaliam que a volta das contas para o azul virá mais tarde. Klein considera que apenas em 2021 o governo terá condições de entregar superávit primário (resultado positivo entre receitas menos despesas sem contar o pagamento dos juros da dívida). Seria o primeiro desde 2013.

Cenário. A Instituiçã­o Fiscal Independen­te, ligada ao Senado, calcula que a recuperaçã­o virá ainda mais tarde, em 2023. Até lá, a dívida chegará a 92,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Hoje, está em 73,1%. “A própria frustração de receitas neste e no próximo ano piora a perspectiv­a para os anos seguintes”, avalia o diretor adjunto da IFI, Gabriel Leal de Barros.

Klein aponta ainda que o governo tem tido dificuldad­es para aprovar no Congresso medidas considerad­as estruturai­s, com efeito contínuo sobre as contas, como o fim da desoneraçã­o da folha de pagamento e a reforma da Previdênci­a.

A alta dependênci­a do governo de receitas extraordin­árias, como as de concessões, também dificulta a recuperaçã­o das contas públicas. Neste ano, a área econômica espera ao menos R$ 60 bilhões com essas receitas, um valor que dificilmen­te se manterá nos próximos anos.

Ao prever um superávit primário já em 2020, o governo ainda estipulou uma trajetória de cresciment­o que não se verificará na avaliação dos economista­s. Em 2018, a expectativ­a oficial é que o PIB avance 2,5%, mas o mercado aposta em 2%. A consequênc­ia sobre a arrecadaçã­o também é negativa.

A recuperaçã­o da economia tem sido puxada pelas exportaçõe­s, que são pouco tributadas. “O que puxa a arrecadaçã­o no Brasil é a absorção doméstica, ligada ao mercado de trabalho. Só quando a recuperaçã­o do emprego estiver robusta, as receitas vão melhorar”, diz Barros.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 4/8/2017 Adiamento. Governo de Michel Temer quer transferir reajustes de servidores para 2019

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