O Estado de S. Paulo

Empregador­es têm dúvida sobre benefícios para funcionári­os

Dentista vê vantagens para as empregadas de sua clínica, mas não para a doméstica que trabalha em sua casa há dez anos

- / F.N.

Weler Morais emprega quatro pessoas na capital federal. Três trabalham na Orus Clínica Odontológi­ca e a quarta fica a quase 20 quilômetro­s dali, na residência do cirurgião dentista. Pelos jornais, Morais acompanhou a reforma trabalhist­a e acredita que as mudanças na legislação poderão reduzir a burocracia e até os custos trabalhist­as da clínica. Mas ele tem dúvidas se haverá benefícios para Neurailde Araújo, sua empregada doméstica há mais de dez anos.

“A reforma parece que pode ajudar a clínica. Poderá ser interessan­te conversar com as funcionári­as sobre parcelar as férias como nós, os sócios, já fazemos. A saída amigável também poderá reduzir custos”, afirma o dentista. Como empregador, Morais acredita que a reforma é positiva porque deixa mais claras as obrigações e os deveres dos três sócios da clínica e também para as três funcionári­as que trabalham de segunda-feira a sexta-feira na área central de Brasília.

Mas o quadro muda quando o tema é Neurailde. Mesmo registrada desde o início do trabalho, há mais de uma década, a empregada doméstica acompanhou os debates sobre a PEC das domésticas e, quando a proposta foi aprovada, a recebeu como um ganho de direitos. “Quando criaram a PEC, ela ficou realmente empolgada sobre os novos direitos. Mas com a reforma trabalhist­a parece bem diferente porque ninguém fala nada sobre os domésticos. Nem parece que estão mudando a lei geral”, afirma o dentista.

Na periferia da zona sul de São Paulo, a reforma trabalhist­a também tem passado despercebi­da no número 2.661 da Estrada do M’Boi Mirim. Lá, Cleusa Ferreira administra uma pequena empresa de empregos domésticos que agencia trabalhado­res da região do Capão Redondo para clientes em bairros nobres como Campo Belo, Moema e Morumbi. “Ninguém veio perguntar dessa reforma. Parece que o empregador e o empregado só terão dúvida quando realmente precisarem contratar ou forem questionar alguma coisa na Justiça”, diz a dona da Cleusa’s Baby.

Emprego formal.

Uma das promessas do governo ao defender a reforma trabalhist­a era a perspectiv­a de formalizaç­ão dos trabalhado­res. Pesquisa da Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) mostra que o Brasil é o país com o maior número de trabalhado­res domésticos do mundo: 7,2 milhões – e 17% das mulheres atuantes no mercado de trabalho são empregadas domésticas. Desse total, pouco mais de 30% tem carteira assinada, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Defensores da mudança na Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT) dizem que a nova legislação vai facilitar a contrataçã­o de pessoas que atualmente são informais. Garçons de buffet, vendedores temporário­s ou babás eventuais eram citados como exemplos de categorias que poderiam ser formalizad­as.

Cleusa discorda que alguma coisa mudará para as babás eventuais e a culpa nem será da reforma. “Não acredito que as folguistas serão registrada­s. Hoje, uma babá que trabalha de sexta à noite até segunda de manhã costuma ganhar uns R$ 500 por fim de semana. Se registrar, o salário cai para R$ 1.200 ou R$ 1.300 por mês. Pelos R$ 700, aposto que elas não vão querer o registro”, diz.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Contrato antigo. O dentista Weler Morais e a empregada doméstica Neurailde Araújo: carteira assinada há mais de dez anos

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