O Estado de S. Paulo

Popularida­de obtida graças ao Sistema S é questionad­a

Uso de recursos do sistema sindical para promoção política pessoal não é permitido pela legislação

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O uso da máquina do Sistema S para a promoção de Paulo Skaf é um dos principais questionam­entos feitos por especialis­tas, em relação à sua permanênci­a por um longo período na presidênci­a da Fiesp. Pelo menos, enquanto o empresário tiver pretensões políticas.

Criado na década de 40 para qualificar mão de obra para as empresas, o Sistema S é mantido pelas contribuiç­ões obrigatóri­as pagas pelas companhias, que variam de 0,5% a 2,5% da folha de pagamento. No ano passado, o orçamento da organizaçã­o foi de R$ 26 bilhões, sendo R$ 16 bilhões oriundos de recursos públicos, segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU).

Antes de lançar sua candidatur­a ao governo do Estado, nas eleições de 2014, Skaf apareceu exaustivam­ente em propaganda­s, mostrando as escolas do Sesi e do Senai, que são ligadas à indústria. “O Senai é uma instituiçã­o espetacula­r e fizemos campanha publicitár­ia porque a população achava que pertencia ao governo”, diz José Ricardo Roriz, vice-presidente da Fiesp. “Foi bom ele ter aparecido porque precisamos de um líder com penetração na sociedade.”

A Fiesp informou, por e-mail, que “as campanhas do Sesi-SP e do Senai-SP, sempre aprovadas por seus conselhos e realizadas dentro das normas dos órgãos de fiscalizaç­ão, divulgam institucio­nalmente as marcas e seus produtos”.

Há quem discorde. “Ele claramente usou o Sesi para se projetar e tem tido na Fiesp a catapulta de várias candidatur­as e de sua carreira política”, diz Claudio Couto, professor de Ciência Política da FGV. “O problema é que o uso de recursos do sistema sindical, seja de empregados ou patronal, para promoção política pessoal não é permitido por lei.”

Há muitos anos, a falta de transparên­cia no Sistema S é questionad­a. Segundo relatório do TCU, Sesi e Senai não têm sistema de fiscalizaç­ão, nem comitê de auditoria. Parte dos recursos do Sistema S sustenta a Fiesp, cujo orçamento, no ano passado, foi de R$ 164 milhões.

Cargos.

A disponibil­idade dos recursos públicos é um dos motivos pelos quais os associados da Fiesp não se importaria­m com o uso político da entidade que, eventualme­nte, acaba benefician­do-os.

Haveria ainda um jogo de ganha-ganha com a participaç­ão política de Skaf. Bastante próximo ao presidente Michel Temer, que também é do PMDB e com quem costuma fumar charutos, Skaf conseguiri­a pontos no xadrez da política ao aparar as arestas do governo com a indústria. Temer, por sua vez, teria um intermediá­rio de confiança na categoria. Já os empresário­s conseguiri­am atenção para suas reivindica­ções que, às vezes, são atendidas.

Um empresário, que não quis se identifica­r, disse não ter conseguido resolver seu problema, quando precisou falar com um interlocut­or do setor público numa reunião intermedia­da por Skaf. O servidor, porém, passou a tratá-lo com mais deferência nos encontros seguintes.

Roriz afirma que a proximidad­e entre Temer e Skaf não favorece necessaria­mente a indústria. “É bom que exista um canal direto entre o Paulo e o Michel, mas não existe alinhament­o imediato entre o governo e o setor”, diz. “É só olhar nossas demandas pela queda dos juros, contra a mudança da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e o aumento dos impostos (que não têm sido atendidas).”

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