O problema do lixo
A era dos modernos condomínios começou por volta dos anos 1970 na cidade de São Paulo. Naquela época, não havia sistemas de segurança, não havia garagens de porte compatível com os automóveis que, alguns anos depois, tomariam conta das ruas. Ninguém falava em sustentabilidade. Portanto, não havia também previsão para armazenar nosso lixo nessas novas comunidades.
Com ou sem coleta seletiva, espaço para lixo é um dos grandes transtornos nos condomínios, atualmente. Nossa capacidade para gerar lixo é enorme, mas via de regra não sabemos direito o que fazer para descartá-lo de forma sustentável.
O recente advento da coleta seletiva amenizou a gravidade do problema, mas essa prática ainda é incipiente. Síndicos e moradores dos condomínios precisam empenhar-se para resolver a questão. Se o prédio não reservou espaço para armazenar seu lixo antes da coleta pública, tanto pior. O condomínio precisa criar esse espaço: foi uma falha de projeto. O lixo tem regras próprias, é necessário tomar muito cuidado com o descarte. Morador que jogar ponta de cigarro ou qualquer pedaço de papel pela janela pode ser considerado antissocial.
As regras são diferentes para condomínios residenciais e comerciais. Além disso, cada cidade tem sua própria legislação. Além dessa complexidade, para o morador do condomínio nem sempre é fácil entender a vantagem da coleta seletiva, já que não há uma ideia clara de retorno financeiro: é uma ação coletiva de longo prazo que muitos ainda consideram de difícil operação.
Podemos, no entanto, aprender com nosso lixo. Como não temos sabido lidar com ele de forma sustentável, nossas sobras ganham escala planetária: são filhas diletas de nosso progresso e de nossa antiga embriaguez pelo crescimento ilimitado. Lixo é, por si só, uma grande pauta para as assembleias e reunião de moradores do prédio, e também assunto para os pais conversarem com seus filhos: mais do que nós, são eles que herdarão a terra.
A culpa não é somente de quem habita o prédio. A culpa é também de nossos mentores do poder público, que ensinam como proceder, mas nem sempre fazem a sua parte. A cidade está cheia de espaços baldios, de onde o lixo é apenas precariamente recolhido. A culpa é também das licenças ambientais que se renovam por tempo muito longo.
Há milhares de condomínios no Estado de São Paulo que não dão ainda um tipo de destinação adequado para seu lixo. Talvez porque ainda não entendemos direito que lixões, mares e rios, por maiores que sejam, não são áreas inesgotáveis. O lixo que está contaminando o meio ambiente pode voltar-se contra nós. Para o condomínio, e fora dele, o recado é claro: decifra-me ou te devoro.