O Estado de S. Paulo

MPF diz que Joesley omitiu crime e quer cobrar R$ 1 bi

Valor se somaria aos R$ 10,3 bilhões que a J&F terá de pagar no acordo de leniência firmado com força-tarefa

- Fábio Fabrini Fabio Serapião / BRASÍLIA

O procurador Ivan Marx, do MPF em Brasília, afirma que o empresário Joesley Batista e outros executivos do Grupo J&F esconderam em delação premiada crimes praticados no BNDES. Apesar da imunidade penal obtida pelos delatores no acordo com a Procurador­ia-Geral da República, Marx diz que as fraudes em aportes feitos na empresa estão demonstrad­as. Ele pretende apresentar denúncia e cobrar R$ 1 bilhão por prejuízos ao erário, informam Fábio Fabrini e Fabio Serapião. Segundo Marx, o valor não foi coberto pelo acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões firmado pelo MPF com a J&F. A negociação foi conduzida pelos procurador­es da Operação Greenfield, que apura desvios em negócios do frigorífic­o e em outras empresas do grupo. “Nós (da Bullish) não aderimos a esse acordo”, diz. A JBS não se manifestou. O BNDES não comentou.

O procurador Ivan Marx, do Ministério Público Federal (MPF) em Brasília, afirmou que o empresário Joesley Batista e executivos do Grupo J&F esconderam, em suas delações premiadas, crimes praticados no Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES). Apesar da imunidade penal obtida pelos delatores no acordo com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Marx disse que pretende apresentar denúncia pelos delitos e cobrar R$ 1 bilhão a mais da companhia por prejuízos ao erário.

Responsáve­l pela Operação Bullish, que mira nos negócios do banco com o grupo, Marx afirmou que as fraudes em aportes bilionário­s feitos no conglomera­do estão demonstrad­as na investigaç­ão. “Onde eu digo que eles estão mentindo é no BNDES. A Bullish apontou mais de R$ 1 bilhão de problemas em contratos. Os executivos vão lá, fazem uma delação, conseguem imunidade e agora não querem responder à investigaç­ão”, disse ao Estado.

As delações dos executivos da J&F, que controla a JBS, serviram de base da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. A Câmara vetou o prosseguim­ento da acusação. Janot, porém, deverá oferecer uma outra denúncia contra o peemedebis­ta, com as delações como um dos elementos, por obstrução da Justiça e organizaçã­o criminosa.

Entre 2005 e 2014, o BNDES aportou R$ 10,63 bilhões na J&F para viabilizar a aquisição de outras companhias, o que a transformo­u em líder mundial no segmento de proteína animal. A política foi amplamente adotada nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Em delação, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), executivos da J&F disseram ter pago propina ao ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para não atrapalhar os trâmites das operações no BNDES. Mantega nega. Porém, alegaram que não houve interferên­cia na análise técnica e na concessão dos aportes. Laudos da Bullish, deflagrada em maio, apontam, porém, fraudes em ao menos seis aportes.

Marx disse que as investigaç­ões mostram, no mínimo, a ocorrência de gestão temerária nas operações. Para ele, isso justifica processar tanto os gestores do banco quanto os executivos, na condição de coautores. “O BNDES não fez isso sozinho. Foi sempre por demanda deles (JBS)”, afirmou, ressaltand­o que os crimes estão “muito

bem detalhados” no inquérito. “A empresa errou quando se ‘esqueceu’ que o problema dela é o BNDES.” A operação avalia agora se houve outros delitos, além da gestão temerária. Não há prazo para eventual denúncia.

Procurada, a JBS não se manifestou. O BNDES informou que não comentaria o caso.

Delação. Marx disse que não é sua tarefa, mas da PGR, tomar medidas para suspender ou anular colaboraçõ­es. “O que me cabe é dizer que tenho prova dos crimes e processá-los.”

O procurador criticou ainda a conduta adotada com delatores, de chamá-los para complement­ar depoimento­s quando se demonstra que ocultaram informaçõe­s. “Se você provar, eu faço recall”, disse.

Marx avalia também ajuizar ação de improbidad­e administra­tiva para cobrar da JBS prejuízos causados pelas operações do BNDES, por ora calculados em R$ 1 bilhão. Segundo ele, esse valor não foi compensado pelo acordo de leniência de R$ 10,3 bilhões firmado pelas Operações Greenfield, Sépsis, Cui Bono?, Carne Fraca e também Bullish. O acordo foi divulgado, em nota do MPF, no dia 31 de maio.

A negociação foi conduzida pelos procurador­es da Greenfield, que apura desvios em fundos de pensão. Marx disse que não participou da proposta. “Nós (da Bullish) não aderimos a esse acordo”, afirmou.

Marx tem feito outras críticas aos delatores da JBS. Como mostrou ontem a Coluna do Estadão, ele alega que a empresa tem sonegado documentos.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 9/8/ 2017 Depoimento. O empresário Joesley Batista ao deixar o prédio da Polícia Federal, em São Paulo, na semana passada

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