O Estado de S. Paulo

Agora eles vêm

Tragédia tirou o Def Leppard do Rock in Rio em 85.

- João Paulo Carvalho

Em 31 de dezembro de 1984, dez dias antes da primeira edição do Rock in Rio, em 11 de janeiro de 1985, uma tragédia marcou para sempre o mundo da música. Rick Allen, baterista do Def Leppard, uma das bandas de hard rock mais bem-sucedidas da época, sofreu um acidente de carro em Sheffield, na Inglaterra. O impacto da batida fez o músico ter seu braço esquerdo amputado. Os médicos tentaram reimplanta­r o membro, mas o esforço foi em vão. Sem seu virtuoso instrument­ista no comando das batidas frenéticas, o grupo britânico parecia fadado ao fracasso.

Rick Allen ficou três anos afastado dos palcos. 1987 surgiu como o período de renascimen­to para ele e o Def Leppard. Recuperado da lesão, o baterista recebeu o convite para continuar no conjunto. A bateria seria adaptada à sua nova condição. Veio, então, Hysteria, disco de maior sucesso da banda. O Def Leppard, como a fênix, ressurgiu das cinzas e viu o hit Pour Some Sugar on Me (Jogue Um Pouco de Açúcar Em Mim) explodir nas rádios de todo o mundo. “Pensei que fosse o fim de tudo. Não conseguia enxergar o Def Leppard sem o Rick nas baquetas. Acho que ele tem uma história de superação que serve de exemplo para muita gente que reclama em tempo integral. Rick é um baterista muito melhor agora, com apenas um dos braços, do que antes, com os dois”, afirma o vocalista Joe Elliot em entrevista ao Estado por telefone.

Atração do Palco Mundo do Rock in Rio no dia 21 de setembro, o Def Leppard almeja tocar no festival há tempos. Em 1985, a banda havia sido confirmada como atração principal do evento. Na ocasião, o grupo acabou sendo substituíd­o pelo Whitesnake, de David Coverdale. Algumas pessoas, inclusive, disseram que a troca aconteceu por causa do acidente sofrido pelo baterista Rick Allen. Tudo, entretanto, não passou de uma grande confusão. O Def Leppard já havia desistido da apresentaç­ão no Rio de Janeiro por conta dos atrasos na gravação do próximo disco, aquele que viria a ser Hysteria. “O Rock in Rio foi cancelado antes do acidente, se me recordo bem. Não havíamos começado a gravar. Estava tudo muito caótico e atrasado. Lembro que várias apresentaç­ões nos Estados Unidos acabaram sendo desmarcada­s, mas no Brasil a coisa acabou acontecend­o por outros motivos”, conta ele.

A história de superação do Def Leppard rendeu alguns “causos”, digamos, bizarros ao redor do mundo. Em 2011, uma banda do Texas chamada Pyromania, cover do Def Leppard, anunciou que estava à procura de um “baterista com um braço só e, de preferênci­a, sem próteses”. O anúncio, feito no site New Music Express (NME), revoltou os fãs. Outra banda cover do Def Leppard, também chamada Pyromania, na Califórnia, afirmou à época em seu site oficial que o anúncio dos texanos era “de muito mau gosto” e pediu que o público não achasse que eles tinham “aquele comportame­nto completame­nte revoltante e desrespeit­oso”. “Eu, sinceramen­te, não vejo isso como falta de respeito ou algo ruim. É melhor levar tudo como uma grande brincadeir­a. Muitas vezes, nem eu me lembro que Rick tem um braço só. Quando estou na frente do palco, apenas o ouço quebrando tudo na bateria, como faz há anos”, garante o bem-humorado Elliot. Em 1991, o Def Leppard ainda teria de lidar com outro problema gigantesco: a morte de Steve Clark, guitarrist­a e fundador da banda, por overdose.

Shows por aqui. O Def Leppard só veio ao Brasil uma única vez. Isso aconteceu em 1997. A banda marcou dois shows em São Paulo e um no Rio de Janeiro. As memórias, no entanto, não são das melhores. A segunda apresentaç­ão na capital paulista, no extinto Olympia, foi cancelada devido à baixa procura por ingressos. No Rio, uma catástrofe sonora. Pouco menos de 300 pessoas comparecer­am ao antigo Metropolit­an Hall. As performanc­es da Slang World Tour não agradaram ao público brasileiro. Há quem acredite que, na ocasião, o Def Leppard não estava em sua melhor fase, já que as músicas do álbum Slang soavam diferentes para grande parte dos fãs mais tradiciona­is.

Outra tese é que Joe Elliott (vocal), Phil Collen (guitarra), Rick Savage (baixo), Vivian Campbell (guitarra) e Rick Allen (bateria) demoraram muito para desembarca­r em terras tupiniquin­s. “Lembro que as apresentaç­ões no Brasil tiveram uma energia maravilhos­a. Não me recordo quantas pessoas apareceram por lá, para ser sincero. Tenho poucas lembranças. Foram muitas apresentaç­ões ao redor do mundo. Fica difícil. O Rock in Rio é um festival fantástico, um dos mais famosos. Tenho certeza que vai ser incrível. Tocaremos no mesmo dia do Aerosmith. A espera valerá!”, conta.

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ROCK IN RIO Performanc­e. Banda se apresenta na noite de 21 de setembro

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