O Estado de S. Paulo

Escassez de recursos afeta fiscalizaç­ão de fronteiras

Contingenc­iamento chega a R$ 166 milhões e prazo para concluir vigilância foi adiado para 2040; sistema só monitora faixa de 600 km

- Tânia Monteiro Leonencio Nossa / BRASÍLIA

A falta de recursos para as Forças Armadas, revelada ontem pelo Estado, interrompe­u a implementa­ção do Sistema Integrado de Monitorame­nto de Fronteiras. Criado em 2012 e previsto para ser concluído em dez anos, o Sisfron só cobre 600 km de uma faixa de 17 mil km de fronteiras. O prazo de conclusão foi adiado para 2040. O sistema teve contingenc­iados R$ 166 milhões dos R$ 427 milhões previstos pelo Exército para 2017.

A falta de recursos para as Forças Armadas interrompe­u a implementa­ção do Sistema Integrado de Monitorame­nto de Fronteiras (Sisfron), que auxilia na fiscalizaç­ão da entrada ilegal de armas e drogas no País. Criado em 2012 e previsto para ser concluído em dez anos, o Sisfron só cobriu até agora 600 quilômetro­s de uma faixa de 17 mil km de fronteiras. O prazo de conclusão foi adiado para 2040.

De acordo com dados das Forças, o sistema teve contingenc­iados R$ 166 milhões dos R$ 427 milhões que o Exército colocou como previsão na Lei Orçamentár­ia deste ano.

Reportagem publicada ontem pelo Estado mostrou que o Exército, a Marinha e a Aeronáutic­a registrara­m um contingenc­iamento de 40% neste ano, sem contar alimentaçã­o, salário e saúde dos militares. De acordo com o comando das Forças Armadas, existe um risco de “colapso” e os recursos só serão suficiente­s para cobrir os gastos até setembro.

“De uma maneira geral, muitos dos causadores do problema de segurança pública nas grandes cidades passam pelas fronteiras”, afirmou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas.

Em entrevista após participar de solenidade de promoção de oficiais no Palácio do Planalto, o comandante disse ontem que o contingenc­iamento de recursos “compromete” o Sisfron. “É essencial mantermos as fronteiras sob vigilância. Precisamos aplicar a tecnologia, um sistema avançado, que permita o monitorame­nto”, disse Villas Bôas.

Oficiais-generais ouvidos pelo Estado afirmaram que o País gasta mais com deslocamen­tos de agentes para ações de segurança nas metrópoles. Um dia de operação de um batalhão do Exército no Rio, por exemplo, custa R$ 1 milhão. O Planalto escolheu o Rio como vitrine de sua proposta de combate à violência em todo o País. A avaliação de um desses generais é de que cortar recursos do Sisfron e gastar em deslocamen­tos não ajudam a solucionar a violência.

De acordo com Villas Bôas, “uma segurança pública competente se materializ­a com policiais bem preparados e motivados e a compreensã­o pela sociedade da verdadeira dimensão do problema, além de equipament­os adequados”.

Fronteira norte. Além do Sisfron, a série de contingenc­iamentos no orçamento das Forças Armadas tem provocado impacto também no trabalho de reconhecim­ento nas fronteiras da Amazônia. O Exército enfrenta dificuldad­es de compra de combustíve­l para que os militares possam se deslocar pelas áreas de fronteiras.

No caso do Sisfron, o Exército deu prioridade a Mato Grosso do Sul, onde foi feito o projeto-piloto. A meta é estender o sistema para toda a fronteira norte. Para isso, são necessário­s mais recursos tecnológic­os a partir de Rondônia.

Um oficial-general ouvido pela reportagem disse que o Sisfron é uma oportunida­de de as Forças Armadas proporcion­arem a outros órgãos, como Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal, a possibilid­ade de operar também nas fronteiras.

Custos. A interrupçã­o de recursos para implementa­r o Sisfron encarece a médio prazo o projeto, por obrigar o governo a renovar contratos, e pode inviabiliz­ar sua conclusão. Hoje, com o atraso, o projeto se estendeu de 2015 para além de 2040. Com isso, levará mais de 25 anos. E o equipament­o corre o risco de ficar ultrapassa­do.

Atualmente o Sisfron está na 4.ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, que fica em Dourados, em Mato Grosso do Sul. O projeto envia informaçõe­s para Campo Grande, mas já deveria estar repassando os dados diretament­e para Brasília.

Procurado para falar sobre a falta de recursos para as Forças, o Ministério do Planejamen­to informou que busca resolver as questões mais graves, mas qualquer ampliação de limites orçamentár­ios depende do aumento do espaço fiscal.

“De uma maneira geral, muitos dos causadores do problema de segurança pública nas grandes cidades passam pelas fronteiras.”

“Precisamos aplicar a tecnologia, um sistema avançado, que permita o monitorame­nto.” Eduardo Villas Bôas

COMANDANTE DO EXÉRCITO

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Cerimônia. O presidente Michel Temer e a primeira-dama Marcela Temer participam da apresentaç­ão de oficiais-generais no Palácio do Planalto

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