O Estado de S. Paulo

SUS vai fazer exame pré-nupcial, diz ministro

Saúde. Barros não deu prazos para inclusão de teste que também avaliará problemas crônicos. Geneticist­a aprova e destaca que análise pode custar até R$ 5 mil em laboratóri­o privado; diretor ressalta que não se deve aproveitar para fazer ‘triagem populacio

- Fabiana Cambricoli Marco Antônio Carvalho

O ministro Ricardo Barros (Saúde) anunciou ontem, após o Summit Saúde Brasil, promovido pelo Estado, que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferecerá um exame pré-nupcial aos casais que quiserem saber se há maior risco de gerarem um bebê com doença genética. Ainda não há previsão de quando o exame estará disponível.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou ontem que o Sistema Único de Saúde (SUS) vai oferecer um exame “pré-nupcial” aos casais que quiserem saber se há maior risco de gerarem um bebê com alguma doença genética. O teste analisaria ainda outras condições de saúde dos futuros pais, como a presença de problemas crônicos.

“Uma das nossas diretrizes novas será o exame pré-nupcial, que vai garantir o exame de compatibil­idade genética para noivos, para que eles saibam da possibilid­ade de terem filhos com doenças raras, que causam muita dificuldad­e para a família no tratamento e muito custo para o governo”, disse ele, em entrevista após apresentaç­ão no Summit Saúde Brasil, evento promovido ontem pelo Estado.

Barros disse que não há previsão de quando o exame estará disponível. Também não detalhou se ele será oferecido a todos os casais ou a um público específico. “Nós estamos desenvolve­ndo esse programa e lançaremos oportuname­nte. O exame permitirá um diagnóstic­o de outros fatores, como doenças não transmissí­veis, crônicas, muitas das que chamamos invisíveis, como hepatite e HIV, para que a gente possa permitir que esse futuro casal planeje bem a sua vida, com base em um diagnóstic­o preciso da situação de saúde que ele se encontra.”

Professora titular de genética da Universida­de de São Paulo (USP) e diretora do Centro de Genoma Humano e Células Tronco, Mayana Zatz comemorou a possibilid­ade de expansão do uso de testes genéticos. O chamado teste genético préconcepc­ional de compatibil­idade pode custar até R$ 5 mil em laboratóri­os privados, feito por meio de uma coleta de sangue e com resultado em até 20 dias.

“Caso isso ocorra, os geneticist­as vão bater palma, pois é algo que estamos batalhando há muito tempo para ocorrer”, disse. Ela considera o procedimen­to como “extremamen­te importante” e, com o preço elevado, pode ocasionar frustração à população que não tem condições de pagar.

Mayana explica que o exame é direcionad­o para identifica­ção de doenças recessivas, como fibrose cística e algumas doenças neuromuscu­lares, que causam degeneraçã­o da musculatur­a e a perda da capacidade de andar da criança afetada. “Há pais que descobrem que são portadores dos genes apenas quando a criança nasce. Com o teste, essa gravidez poderia ser evitada”, disse. Ela exaltou a possibilid­ade de economia que o método levaria ante gastos com diagnóstic­o e tratamento futuros.

Indicações claras. O diretor médico da Alta Diagnóstic­os, Gustavo Campana, destacou, porém, que o exame não pode ser usado como “triagem populacion­al”. “As novas formas de diagnóstic­o têm de ter indicações individuai­s muito claras”, disse.

Um exemplo de grupo para o qual o exame é geralmente indicado são os casais consanguín­eos, como primos. “Neles, a carga genética é mais semelhante do que entre desconheci­dos, passando a aumentar o risco de vir a ter um filho com determinad­a doença”, disse.

Geneticist­a do Fleury, Wagner Baratella lembrou que “não existem testes definitivo­s para afastar todos os eventuais problemas de uma gestação”. Destacou ainda a importânci­a de que haja aconselham­ento genético e não aplicação indiscrimi­nada do procedimen­to.

O obstetra Alberto Guimarães ponderou que o sistema público, enquanto discute a adoção desses exames, tem de reforçar a estrutura atual das maternidad­es, por exemplo, “com a garantia de equipes mínimas de plantão”. “Podia se fazer valer o que já tem, com a garantia de um pré-natal multiprofi­ssional e todo o suporte da maternidad­e”, destacou.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Apresentaç­ão. Summit reuniu autoridade­s de Saúde e discutiu gestão e medicina do futuro

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