O Estado de S. Paulo

Reação a ‘distritão’ faz Câmara adiar reforma

Partidos da base demonstram resistênci­a às mudanças discutidas na reforma política; decisão no plenário deve ficar para a próxima semana

- Felipe Frazão Isadora Peron / BRASÍLIA

A Câmara dos Deputados adiou para a semana que vem a previsão de votar, em plenário, as novas regras eleitorais. Partidos da base governista, sobretudo do Centrão, demonstrar­am resistênci­a às mudanças discutidas na reforma política. Os deputados devem concluir hoje os trabalhos da comissão especial, que trata do fundo público de R$ 3,6 bilhões para custear as campanhas e a mudança do sistema de votação para o chamado distritão.

O prazo inicial de votar o relatório de imediato em plenário, na noite de amanhã, atrasou. Para aprovar o texto, seriam necessário­s 308 votos, o que está cada vez mais incerto. “Com certeza só vai ao plenário na semana que vem”, disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), presidente da comissão.

Depois de uma frente de partidos, principalm­ente da oposição, ter feito campanha contra a mudança do sistema de votação para o distritão, siglas da base governista aderiram ao movimento. PR, PRB e PV fecharam questão contra o sistema em que apenas os parlamenta­res mais votados de cada Estado são eleitos – atualmente, as vagas são distribuíd­as por meio de um cálculo que leva em conta os votos dos deputados e os recebidos na legenda. Também há resistênci­a ao modelo nas cúpulas do PP e do PSD.

“Distritão votamos contra. O fundo ainda vamos discutir, mas há uma tendência para ir contra no meio da bancada”, disse o presidente nacional do PRB, ministro Marcos Pereira (Desenvolvi­mento, Indústria e Comércio Exterior).

Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu ontem as críticas ao distritão e disse que o sistema, como um modelo de transição, “não é tão ruim assim”. “Eu acho que se a gente tiver uma transição, com o distrital misto em 2022, a gente deu um grande passo e conseguiu construir, a médio prazo, um modelo que vai conseguir dar racionalid­ade ao sistema brasileiro”, disse.

Pressão. A disputa sobre o controle das verbas do fundo eleitoral despertou a pressão dos dirigentes partidário­s sobre

as bancadas. Líderes do Centrão e de legendas menores estão em desacordo com a proposta de estabelece­r uma reserva de valores entre as candidatur­as majoritári­as (prefeito, governador e presidente). Eles querem ratear os recursos segundo os próprios interesses e

estratégia­s eleitorais. Por isso, segundo um dos deputados que integram a cúpula da comissão, passaram a ameaçar a votar contra o distritão, como retaliação.

Bancadas como a do PSDB, DEM e PSD devem fazer reuniões nos próximos dias para discutir como votar sobre os dois principais pontos da Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) 77 de 2003, que deve ser a primeira a chegar ao plenário. A repercussã­o negativa da destinação de R$ 3,6 bilhões dos cofres públicos para custear campanhas também fez alguns parlamenta­res recuarem.

“Nós não temos posição consolidad­a sobre o fundo. Estamos numa escolha de Sofia. Tanto o financiame­nto privado (de empresas) quanto o público foram rejeitados. Temos que pensar se a transparên­cia no processo democrátic­o vale esse custo”, disse o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB), favorável ao distritão.

O relatório em debate, de autoria do deputado Vicente Cândido (PT-SP), estipula que os recursos para financiar campanhas sejam equivalent­es a 0,5% da Receita Corrente Líquida, o que a equipe econômica do governo considera problemáti­co em tempos de ajuste fiscal.

Vieira Lima cobrou que partidos que votarem contra o fundo abram mão de receber a verba, caso a proposta seja aprovada. “Quem estiver resistindo ao fundo, que não aceite depois, mesmo que aprove. É muito bonito criticar e receber o benefício. Qualquer coisa diferente disso é demagogia barata”.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-18/5/2016 Origem. Segundo o líder do Congresso, André Moura, há muitas propostas em debate na Câmara sobre recursos de fundo

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