O Estado de S. Paulo

Eleitores e partidos terão de esperar

- Glauco Peres PROFESSOR DE CIÊNCIA POLÍTICA DA USP

Aadoção do distritão tem provocado intenso debate público nos últimos dias e a celeridade com que o tema é tratado na Câmara demonstra o forte interesse dos deputados em alterar o sistema vigente. Como a reforma política parece ser o fim de todos os nossos problemas, os parlamenta­res aproveitam-se da crítica para implementa­r uma alteração drástica nas regras eleitorais. A questão reside na motivação dos deputados e em suas prováveis consequênc­ias. Quais os efeitos dessa mudança sobre os partidos?

Em democracia­s saudáveis, os partidos políticos funcionam como agregadore­s dos diferentes interesses particular­es e como coordenado­res das eleições, ao oferecer diferentes alternativ­as aos eleitores. Assim, não existe democracia sem partidos. Apesar de nossos partidos serem falhos na tarefa de representa­ção de diferentes interesses, o esforço deve ser no sentido de fortalecê-los para que o façam, e não o contrário.

Porém, os deputados não parecem preocupado­s com isso. Em conjunto com o financiame­nto público de campanha, as mudanças caminham no sentido de permitir que as lideranças partidária­s tenham pleno controle dos candidatos que terão maior visibilida­de em 2018. Ao mesmo tempo, as novas regras reduzem o número de candidatos potenciais, restringin­do a escolha do eleitor. Ou seja, os partidos ficam claramente fragilizad­os como canalizado­res de interesses da sociedade, ainda mais porque cada candidato fará a campanha promovendo a si mesmo, e não ao partido ou àquilo que a legenda representa.

Para que serve a mudança, então? A única motivação dos candidatos parece ser garantir a reeleição, mantendo o foro privilegia­do e escapando da Lava Jato. Os partidos e os eleitores terão de esperar por 2022.

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