O Estado de S. Paulo

‘TERRA DA GAROA’ OU CIDADE DO TEMPORAL?

Mudanças climáticas já tornaram chuvas mais frequentes e fortes em SP, diz novo estudo

- ZFábio de Castro

Depois de analisar dados meteorológ­icos do Sudeste dos últimos 74 anos, um grupo de cientistas concluiu que as mudanças climáticas já estão alterando o padrão de chuvas na região, com aumento da precipitaç­ão sobre o território paulista e redução sobre o Rio e o Espírito Santo. Graças à intensa urbanizaçã­o, cidades como São Paulo sentem efeito mais intenso.

O novo estudo revela que nesse período, no Estado de São Paulo, houve aumento médio tanto da frequência de dias chuvosos como do volume das chuvas extremas. Ao mesmo tempo, ficaram mais raros os dias com chuva amena. A tendência deve manter-se nos próximos anos, segundo os autores.

A pesquisa apontou também que no Rio e no Espírito Santo houve uma redução na frequência dos dias chuvosos e no volume da precipitaç­ão, mas aconteceu uma concentraç­ão de fortes tempestade­s em um número menor de dias. O estudo teve seus resultados publicados ontem na revista científica Internatio­nal Journal of Climatolog­y.

Em vários estudos anteriores, climatolog­istas já previam que um dos principais efeitos das mudanças climáticas em curso será a exacerbaçã­o dos eventos extremos, incluindo o aumento da frequência e da intensidad­e de tempestade­s e secas severas. A nova pesquisa teve o objetivo de verificar se essas previsões estão virando realidade, segundo uma das autoras do artigo, Maria Assunção Faus da Silva Dias, professora aposentada do Instituto de Astronomia Geofísica e Ciências Atmosféric­as da Universida­de de São Paulo (USP).

Os pesquisado­res verificara­m

a quantidade de dias sem chuva, com de chuva fraca (com menos de 5 milímetros) ou extrema. Os dados foram extraídos de 36 estações meteorológ­icas no Sudeste. “Percebendo os padrões do regime de chuvas nas últimas décadas, podemos projetar as tendências. Constatamo­s que onde chove muito vai chover mais e onde há seca ficará mais seco”, disse.

Ilhas de calor. Segundo a pesquisado­ra, em regiões altamente

urbanizada­s, como a capital paulista, as chuvas são ainda mais exacerbada­s pelas ilhas de calor. “Nos últimos 70 anos, a temperatur­a na região urbana de São Paulo aumentou cerca de 4°C – elevação equivalent­e à que prevemos para os próximos cem anos em escala mais ampla. Além de ter causado o fim da garoa, esse fenômeno aumenta as chuvas extremas. O ar das regiões mais frias no entorno da cidade converge para essa bolha de calor, provocando intensas

tempestade­s.”

Segundo Maria Assunção, outro fator que pode ajudar a explicar a mudança dos padrões de chuva é uma alteração na chamada Zona de Convergênc­ia do Atlântico Sul – uma faixa de nuvens de chuva que costuma se estender desde a Amazônia até o Sudeste, chegando ao oceano. “Uma das hipóteses é que, com as mudanças climáticas, essa zona de chuvas se deslocou ligeiramen­te para o sul.”

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