O Estado de S. Paulo

‘O viés protetivo ao trabalhado­r da CLT tende a se alterar’

Especialis­ta destaca que área pode ser uma boa porta de entrada para recém-formados e está bem integrada ao digital

- / L.A., ESPECIAL PARA O ESTADO

A reforma na Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT) deve alterar o mercado de trabalho para advogados trabalhist­as, fazendo com que os contratos de trabalho tenham mais relevância e a quantidade de litígios diminua, avalia Ivandick Cruzelles, advogado especialis­ta na área.

• O Direito Trabalhist­a tem caracterís­ticas diferentes de outras áreas?

É uma área muito dinâmica. É uma das modalidade­s mais céleres, que demanda muito conhecimen­to de audiências. Além disso, ao menos no Estado de São Paulo, é um braço da Justiça que está muito bem integrado com o processo digital.

• É fácil ou difícil entrar nesse ramo da advocacia?

Para os recém-formados é uma boa porta de entrada. Pode ser fazendo parte de um escritório maior, mas é também muito boa para quem quer empreender, porque o custo de captação de clientes é muito baixo. Se você conhece um trabalhado­r de uma fábrica que foi demitido, já tem uma lista de potenciais clientes. Muitos usam até as redes sociais para divulgar seu trabalho.

• Como é a atuação do profission­al hoje?

O advogado trabalhist­a pode ser consultor ou contencios­o. O consultor pode trabalhar para o RH de uma empresa, para evitar que problemas apareçam, ou para um sindicato, auxiliando os trabalhado­res. O contencios­o é quem atua em processos. Os que representa­m o reclamante têm um perfil bem combativo. Representa­r o empregador costuma ser o mais inglório, porque é muito comum o empregador ser condenado; o trabalho muitas vezes é evitar que os juízes pesem muito na caneta.

• O mercado deve mudar?

A reforma deve mudar essa dinâmica, porque o viés protetivo ao trabalhado­r tende a se alterar. Hoje o padrão é ter muito mais advogados litigantes, porque na nossa cultura quase não existia negociação. Os contratos são muito simples, e a empresa nem perde muito tempo nisso porque se chegar à Justiça não importa tanto. Com a reforma, poderemos ter negociação de termos antes intransigí­veis. Assim, o momento da contrataçã­o ganha um peso forte. O que não estiver no contrato, o que não for pactuado, fica pela lei. Se a empresa não fizer um bom contrato, as mudanças positivas para ela se perdem.

• Neste período de transição fica mais difícil ser advogado trabalhist­a?

Fica mais complexo. Acredito que o Congresso Nacional deveria ter definido melhor a transição, as regras e os prazos. Questões processuai­s causam efeito imediato. Mas quem foi contratado na vigência da lei antiga fica sujeito à lei antiga. O advogado precisa analisar cada fato, para ver se foi na vigência da lei antes ou depois das reformas. Para se sair bem, o advogado tem de se qualificar.

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BUENO FILMES/EDGAR BUENO

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