O Estado de S. Paulo

Lucro do BNDES sobe 162% até junho

Sem incluir perdas com as ações da JBS, banco teve resultado positivo de R$ 1,3 bilhão ante prejuízo de R$ 2,1 bilhões no 1º semestre de 2016

- Vinicius Neder /

O Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) teve lucro líquido de R$ 972 milhões no segundo trimestre, somando R$ 1,3 bilhão na primeira metade do ano. O resultado reverteu o prejuízo de R$ 2,1 bilhões do primeiro semestre de 2016, com alta de 162%. O avanço veio de perdas menores nos investimen­tos na Bolsa, embora o banco tenha deixado para depois o registro de perdas com as ações do frigorífic­o JBS. Um cálculo inicial indicou que o lucro semestral poderia ser reduzido em R$ 1,2 bilhão se a perda fosse registrada já.

O cenário no mercado de ações na primeira metade deste ano foi melhor que no primeiro semestre de 2016, quando o processo de impeachmen­t da expresiden­te Dilma Rousseff se desenrolou. No ano passado, o BNDES teve prejuízo ao registrar perdas de R$ 4,920 bilhões com seus investimen­tos em empresas como Petrobrás, Vale, JBS e Eletrobrás. Neste ano, as participaç­ões societária­s tiveram ganho de R$ 1,420 bilhão.

A superinten­dente da Área de Controlado­ria do BNDES, Vania Borgerth, explicou que o vaivém das ações na Bolsa, no dia a dia, impactam no patrimônio. Quando as cotações sobem, o patrimônio vai junto – e viceversa. Só que, pelas regras de contabilid­ade, quando um banco verifica que as quedas das cotações foram tão grandes que podem não ser recuperada­s, é preciso reduzir esse valor, considerad­o “irrecuperá­vel”, do lucro. É o que o mercado chama de “baixa contábil” ou “impairment”, no jargão da Bolsa.

Agora, em 2017, o mercado melhorou. “Como o mercado não voltou a se deteriorar, não tivemos que constituir nenhuma perda adicional nem jogar para o resultado”, afirmou Vania.

O mercado foi melhor no primeiro trimestre do que no segundo. Tanto que, separadame­nte, o lucro líquido da BNDESPar, que tinha sido de R$ 1,2 bilhão de janeiro a março, ficou em apenas R$ 9 milhões de abril a junho. Além disso, o valor total da carteira de ações da BNDESPar caiu de R$ 63,628 bilhões, em 31 de março, para R$ 58,667 bilhões, em 30 de junho, queda de 7,8%, causada, principalm­ente, pela “desvaloriz­ação da cotação em Bolsa das ações da Petrobrás, Eletrobrás e Vale”.

O principal evento a reduzir as cotações das ações no segundo trimestre foi a revelação, em meados de maio, da delação premiada de executivos da holding controlado­ra da JBS, incluindo os irmãos Joesley e Wesley Batista. Os depoimento­s envolveram o presidente Michel Temer e atingiram toda a Bolsa, mas os papéis da JBS mais fortemente. O frigorífic­o entrou em crise de confiança, foi obrigado a vender ativos e adiou divulgação do balanço do segundo trimestre.

Por causa dos polêmicos aportes feitos pelo BNDES ao longo dos governos do PT, para apoiar a internacio­nalização do frigorífic­o, o banco de fomento detém 21,47% do capital total da JBS. A fatia é tão grande que o banco considera a empresa como “coligada” em seu balanço financeiro. Por isso, faria sentido fazer uma baixa contábil por causa dessas perdas.

Segundo Vania, o BNDES deixou para fazer isso no balanço financeiro de setembro porque, para fazer o “teste de impairment” (como é chamado o cálculo que determina o valor da baixa contábil), o banco precisaria das informaçõe­s do balanço financeiro da JBS. “Teríamos dificuldad­e de chegar a uma avaliação de qualidade (sobre o valor da baixa contábil), dado que o próprio auditor (da JBS) não liberou as demonstraç­ões contábeis dela”, disse.

Mesmo assim, o BNDES fez “um teste dentro do que a gente podia prever”, que apontou para uma baixa de cerca de R$ 1,2 bilhão, “mas essas informaçõe­s não têm ainda grau de confiabili­dade”, disse Vania.

O balanço financeiro do BNDES apontou que o ativo total encerrou o primeiro semestre em R$ 883,64 bilhões. O Índice de Basileia, que mede a saúde financeira de um banco, ficou em 22,75%, acima dos 10,5% exigidos pelo Banco Central.

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FABIO MOTTA/ESTADAO-12/5/2017 Ações. Até junho, o BNDES teve ganho de R$ 1,420 bilhão com participaç­ões societária­s
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