O Estado de S. Paulo

‘Na construção, roubam de tudo, de torneira a vaso sanitário instalado’

Empresário­s contam o que têm feito para reduzir as perdas com a criminalid­ade; mas medidas são caras

- /R.P.

O muro da empresa de Cesar Prata é o retrato da escalada da criminalid­ade no Brasil. Desde a década de 80, quando a empresa foi criada, ele elevou a altura do muro algumas vezes. Saiu de 2 para 3,5 metros e agora tem uma cerca elétrica no topo. Ainda assim, a Asvac – que produz peças para indústria naval – foi assaltada e a empresa perdeu máquinas e computador­es.

Depois disso, Prata decidiu modernizar as ferramenta­s de segurança e instalou um sistema eletrônico que capta qualquer movimentaç­ão fora da normalidad­e. Trata-se de um alarme conectado com uma delegacia e com os sócios diretament­e. Além da proteção na sede da empresa, o empresário também faz seguro das cargas e contrata escolta armada em algumas situações. “Mas o serviço é muito caro.” Ele conta que já teve uma carga roubada no caminho para o Rio de Janeiro.

Nesse caso, o caminhão não estava sendo escoltado, mas havia seguro. Embora o prejuízo tenha sido minimizado, o desgaste é grande, pois o cliente precisa das peças e uma nova produção não é imediata. O empresário conta que por causa da situação precária das estradas e pelo roubo de carga, o preço do frete também aumentou bastante nos últimos anos. “As estatístic­as são assustador­as e não há previsão de melhora.”

A construtor­a Coelho Engenharia também tem a mesma percepção. Em menos de um ano, dois empreendim­entos imobiliári­os da empresa foram invadidos. Em Mauá, na Grande São Paulo, a ação durou apenas quatro horas, mas o suficiente para quebrarem várias portas e janelas do residencia­l do Minha Casa Minha Vida. Em Porto Alegre (RS), porém, a invasão já dura dez meses no Residencia­l Porto Novo. “São regiões um pouco mais afastadas, próximo de moradias irregulare­s. Conforme vamos concluindo os imóveis, alguns grupos se acham no direito de invadir e destruir tudo”, diz o diretor comercial da construtor­a, Argemiro Jonas da Silva. A Caixa, responsáve­l pelo programa, afirma que já entrou com pedido de reintegraç­ão de posse. “Quando sair a decisão e as pessoas forem retiradas, vamos ter de refazer quase tudo”, diz Silva.

Nos dois locais, havia vigia 24 horas por dia, porteiro e seguro de alguns materiais. Ainda assim, os prejuízos são grandes. Ele conta que essas foram as primeiras invasões que a empresa sofreu. Antes disso, no entanto, era comum roubo de materiais. “Já roubaram de tudo: janela, torneira e vaso sanitário. O detalhe é que tudo estava instalado.”

A Construtor­a Elecon já passou por vários roubos, pequenos e grandes. Na última delas, no ano passado, os ladrões renderam o vigia de um empreendim­ento do Minha Casa Minha Vida e levaram todas as bobinas de cabos elétricos que tinha chegado um dia antes. “Roubaram até os cabos que haviam sido instalados na construção”, afirma o dono da empresa, Sérgio Lafraia.

Após o incidente, a construtor­a foi obrigada a reforçar a segurança e melhorar a parte de comunicaçã­o da empresa, com a adoção de rádios. “Os custos são altos. Calculo que o gasto seja o dobro, consideran­do o que gastaria se o País tivesse segurança adequada.”

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ITAMAR AGUIAR / ESTADÃO Invasão: Residencia­l, em Porto Alegre, está ocupado há dez meses
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NILTON FUKUDA/ESTADÃ O-8 /8/2017 Tecnologia: Prata instalou sistema de monitorame­nto

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