O Estado de S. Paulo

Ex-auditor revela crimes no Carf e envolve Gerdau

Empresa é suspeita de subornar membro do Carf para abater débito de R$ 1,5 bi; empresa de mídia e de cimentos também foram citadas em delação

- Fábio Fabrini Fabio Serapião / BRASÍLIA

Primeiro investigad­o a firmar um acordo de delação premiada com a Operação Zelotes, o ex-auditor da Receita Federal Paulo Roberto Cortez se compromete­u a elucidar os fatos criminosos relacionad­os aos inquéritos e processos envolvendo Gerdau, RBS, Cimento Penha e Bank Boston em julgamento­s no Conselho Administra­tivo de Recursos Fiscais (Carf). O Carf é a última instância em que contribuin­tes podem questionar multas aplicadas pelo Fisco.

O acordo de colaboraçã­o foi homologado no dia 7 pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal em Brasília. O ex-auditor afirmou que os integrante­s do órgão recebiam propina para dar votos favoráveis a empresas. Em um dos depoimento­s, já tornado público, ele confirmou ter atuado para beneficiar o Bank Boston num julgamento. A instituiçã­o financeira conseguiu abater débito de R$ 600 milhões por meio de dois recursos. Uma ação penal sobre o caso, que apura a participaç­ão de 11 pessoas nos supostos crimes, tramita na Justiça Federal em Brasília. O conselheir­o também apresentou informaçõe­s para reforçar as acusações em outras duas ações já em andamento. O Bank of America, que controlava o Bank Boston à época das supostas fraudes no Carf, não se pronunciou.

Como contrapart­ida à colaboraçã­o em todos os casos, o exauditor poderá ter suas penas reduzidas à prestação de serviços à comunidade durante um ano. Além disso, ele terá de pagar R$ 312 mil à União.

Os procurador­es da Zelotes já trabalham na elaboração da denúncia contra executivos da Gerdau. A empresa é suspeita de corromper integrante­s do Carf para tentar abater um débito de R$ 1,5 bilhão. Cortez, segundo as investigaç­ões, foi um dos que teriam feito funcionar esquema de “articulaçã­o, cooptação e corrupção” de agentes públicos com a finalidade de obter julgamento favorável à siderúrgic­a.

Ele foi alvo de uma das fases da Zelotes, juntamente com o presidente do grupo, André Gerdau, já indiciado pela Polícia Federal por corrupção.

O grupo de comunicaçã­o RBS é suspeito de pagar cerca de R$ 15 milhões para a SGR Consultori­a, do advogado José Ricardo da Silva, um dos principais investigad­os na Zelotes, para influencia­r a tramitação de processo de seu interesse no Carf. Numa conversa intercepta­da na operação, Cortez disse que José Ricardo havia lhe ofertado “uma migalha” no êxito do caso. “Me prometeu R$ 150 mil”, comentou.

Referência­s a supostas irregulari­dades para beneficiar a Cimento Penha também apareceram nos diálogos do agora delator da Zelotes. O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega teria nomeado dois conselheir­os no Carf para atender a interesse do dono da empresa, o empresário Victor Sandri, em julgamento no Carf. O ex-ministro e o empresário são próximos, conforme relatório do Ministério Público Federal.

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ALAOR FILHO/ESTADÃO - 22/10/2004 Esquema. Procurador­es trabalham na elaboração da denúncia contra executivos da Gerdau

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