No primeiro balanço após delação dos irmãos Batista, lucro da JBS cai 80%
Frigorífico. Operação Carne Fraca, que investiga corrupção no Ministério da Agricultura, teve forte impacto no resultado, após provocar a parada de 10 unidades de abate; desvalorização do dólar também pressionou para baixo o desempenho da empresa
No primeiro balanço após a delação dos irmãos Batista, que se tornou pública em maio, a JBS – maior processadora de carnes do mundo – anunciou ontem lucro líquido de R$ 309,8 milhões no 2.º trimestre, queda de 79,8% em relação a igual período de 2016, quando os ganhos ficaram em R$ 1,5 bilhão.
O balanço sofreu o impacto da Operação Carne Fraca. A investigação que apura corrupção no Ministério da Agricultura provocou a parada das atividades de dez unidades de abate de bovinos no fim de março. A desvalorização do dólar no período também pressionou para baixo o resultado, já que a maior parte da receita da companhia tem origem no exterior. As vendas líquidas da empresa totalizaram R$ 41,6 bilhões, recuo de 4,6% ante o segundo trimestre de 2016.
Durante o trimestre, a JBS chegou a suspender a compra de gado com pagamento à vista, estratégia para fortalecer o caixa da empresa.
Em relação à delação premiada dos seus principais acionistas e às investigações envolvendo a empresa, a JBS afirmou em relatório que não é possível determinar com “razoável segurança os eventuais impactos nas demonstrações contábeis”. Por isso, explicou, não há registro de nenhuma provisão ou passivo relacionado aos acordos de colaboração premiada. “Diante desses recentes acontecimentos, a companhia não teve condições de mensurar em tempo hábil, para realizar a divulgação tempestiva das demonstrações intermediárias do 2.º trimestre de 2017, os impactos que as alegações e fatos objeto das colaborações premiadas podem acarretar sobre as demonstrações contábeis”, reforçou a JBS.
Sem auditoria. Como a companhia já havia anunciado na semana passada, a demonstração de resultados não foi auditada. De acordo com a JBS, a conclusão do trabalho de auditoria independente está condicionada aos resultados da apuração do acordo de leniência fechado pela empresa e por seus controladores com o Ministério Público Federal (MPF).
O acordo está em processo de homologação e seu conteúdo integral permanece sob sigilo legal. No relatório, a JBS ressalta que o acordo prevê o pagamento de R$ 10,3 bilhões, em 25 anos, a serem saldados exclusivamente pela J&F, “sem qualquer obrigação de cunho financeiro para a JBS”.
No que diz respeito à JBS, o acordo de leniência firmado pela J&F discorre principalmente sobre fatos investigados no âmbito das Operações Greenfield, Sépsis, Cui Bono e Carne Fraca e na investigação de operações com o BNDES, diz a JBS.
Escândalos. No dia 17 de maio, o vazamento das delações dos irmãos Batista provocou uma reviravolta nos negócios da família.
Após acordo de leniência, a J&F colocou à venda uma série de ativos. Além das operações de carne da América do Sul para o Minerva, a companhia negociou a Alpargatas, por R$ 3,5 bilhões, para o Cambuhy e Itaúsa; e a Vigor, por R$ 5,7 bilhões, para a mexicana Lala.
Agora, negocia a empresa de celulose Eldorado, que chegou a ter exclusividade com a chilena Arauco; e a Âmbar, de energia, que está sendo avaliada pela gestora canadense Brookfield. O grupo também está recebendo propostas para vender o frigorífico Moy Park, da Irlanda, avaliado em ¤ 1 bilhão. Grupos europeus e chineses estão olhando os ativos.
Com valor de mercado de R$ 23,4 bilhões, a JBS viu suas ações recuarem fortemente após as delações, mas os preços mostraram recuperação. Ontem, os papéis ordinários encerraram a R$ 8,60, com alta de 2,4%.
Apesar dos resultados mais fracos, o presidente global da JBS, Wesley Batista, afirmou que a companhia teve um bom resultado operacional no período.