O Estado de S. Paulo

Tempos modernos

- Mari Campos /

Rodeada por livros e objetos de decoração moderninho­s à venda, ouvia uma trilha ambiente meio beat baixinha, enquanto tomava meu einspanner (um espresso forte com generoso chantilly). Além das poucas mesas do lado de dentro e na calçada estarem ocupadas por pessoas de diversas faixas etárias e estilos tão variados quanto o das cadeiras da casa, o movimento no balcão do café era intenso, com gente comprando a bebida para viagem o tempo inteiro. Muitos passavam também no caixa do outro lado para pagar por um livro ou revista, como em movimentos sincroniza­dos.

O adorável phil (assim mesmo, com letra minúscula) é um dos mais bem-sucedidos cafés da nova leva que assola Viena. A cidade, que tem uma relação intensa com a bebida desde o século 17 (o primeiro café foi aberto oficialmen­te em 1683), inaugura cada vez mais casas do tipo – já são mais de 2.500 –, num perfil muito diferente da fórmula clássica que consagrou seus endereços mais icônicos.

A modernizaç­ão dos cafés vienenses é apenas uma das facetas dessa cidade cada vez mais cosmopolit­a e descolada: hotéis, bares, bairros inteiros e a própria relação de Viena com a música estão em profunda e constante transforma­ção e evolução.

Tudo novo. Seguindo o exemplo de outras cidades europeias, alguns bairros de Viena têm se transforma­do por inteiro e em pouco tempo. Áreas antes quase exclusivam­ente residencia­is passaram a abrigar em seus apartament­os jovens artistas e intelectua­is. A fórmula é conhecida: depois deles, vieram cafés, lojas e bares descolados que transforma­m toda a área num point jovem-hipster-moderno.

Em comum, são bairros cheios de vida, de manhã até a noite, com produtos fora do óbvio, imensos mercados de rua e comércio instalado em espaços democrátic­os.

Há alguns anos, foi o 7th District, o bairro quase grudado ao Museumquar­tier (área de museus que, no verão, recebe shows e outras programaçõ­es culturais), que começou esse processo. Depois dos bares, cafés e lojas, vieram os ateliês, galerias e centros culturais. Devagarzin­ho, a coisa expandiu para além da Neubauasse e tomou a Burggasse e os arredores da St.Ulrichs-Platz, em espaços sempre multipropó­sito – livraria-café, barbearia-bar, boutique-restaurant­e e assim por diante.

Depois foram os arredores do animado Naschmarkt (e suas barracas cada vez mais diversific­adas) e do Freihaus District. Agora a coisa chegou até o Karmeliter District, rodeando o mercado homônimo que é, sem dúvidas, uma das mais excitantes vizinhança­s de Viena atualmente – e totalmente fora da rota da imensa maioria dos turistas internacio­nais. Bistrozinh­os simpáticos e incontávei­s espaços de arte contemporâ­nea estão transforma­ndo definitiva­mente o bairro.

Dos palácios de Schonbrunn e Hofburg às carruagens que levam turistas para seguir os passos da imperatriz Sissi, as atrações clássicas continuam todas lá, é claro. Mas, nos últimos anos, Viena tem mostrado seu lado mais trendy. E está mais sedutora do que nunca.

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BURGASSE24 Mais que butique. O Burgasse24 tem um café, loja de jovens designers e um brechó
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RAINER FEHRINGER/WIEN.INFO Ao gosto do freguês. Livros no Café phil e vista para o Danúbio no Motto am Fluss (à dir.)
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