O Estado de S. Paulo

S&P mantém nota de crédito do País após nova meta

Para economista­s, aumento do rombo acende sinal amarelo para agências de classifica­ção, mas Previdênci­a é que vai definir corte de nota

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Mesmo após o governo ter elevado a meta de déficit fiscal para 2017 e 2018, a agência de classifica­ção de risco Standard & Poor’s (S&P) anunciou ontem que manteve o rating soberano brasileiro em BB, citando um cenário mais estável desde as denúncias de maio contra o presidente Michel Temer.

A S&P retirou a observação negativa sobre o rating e passou a ter uma perspectiv­a negativa. Na prática, isso significa que a S&P tirou do radar a possibilid­ade de um corte da nota do País sem aviso prévio.

Com a perspectiv­a negativa, o risco de redução do rating é de pelo menos uma chance em três nos próximos seis a nove meses, explicou a S&P. Mas a perspectiv­a também pode se estabiliza­r.

“Desde que colocamos nossa classifica­ção do Brasil em observação negativa, em maio, o cenário político está um pouco mais estável, uma vez que o presidente Temer sobreviveu a uma votação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em junho e no Congresso em agosto, relacionad­o a corrupção”, afirmou a S&P.

Para o estrategis­ta e economista para a América Latina do banco Crédit Agricole, Italo Lombardi, a decisão da S&P Global de manter o rating “é justa”, dadas as dificuldad­es econômicas que o País enfrenta, depois de ter passado por uma recessão muito profunda, que diminuiu o PIB entre 2015 e 2016 em quase 7,4% no total do período.“Tais revisões eram inevitávei­s devido às condições de fraqueza da economia, o que abalou as receitas do Poder Executivo”, aponta Lombardi.

“Acho o déficit de R$ 159 bilhões ruim, mas menos traumático do que seria se o anúncio fosse de R$ 170 bilhões. As próprias agências de rating já tinham dado a deixa de que a chance de rebaixamen­to por conta de aumento de R$ 20 bilhões seria pequena”, reforça Alexandre Espírito Santo, economista da Órama.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, diz que o aumento da meta fiscal acende o sinal amarelo para as agências de classifica­ção de risco, mas o alerta vermelho só virá com a clareza de que a reforma da Previdênci­a não será aprovada em 2017. Para ele, o adiamento dessa reforma para o primeiro ano de um novo governo levará ao rebaixamen­to praticamen­te imediato da nota de crédito do País pelas três principais agências. “A certeza de que a Previdênci­a não vai passar agora vai fazer com que todas as agências baixem as notas do Brasil sem dor na consciênci­a numa sinalizaçã­o de que não se pode brincar com a questão fiscal.”

Na avaliação de Sérgio Werlang, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central e atual assessor da presidênci­a da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil caminha para uma situação das contas públicas que “daqui a pouco” pode se tornar insustentá­vel. Para ele, governo de Michel Temer poderia ser mais agressivo no ajuste fiscal. “O ajuste precisa ser feito com pressa”, ressaltou.

Apesar da gravidade da questão fiscal, Werlang avalia que a situação não chegou ao limite, ou seja, ainda há tempo de se tomar medidas para ajustar as contas públicas. / ALTAMIRO SILVA

JUNIOR, SIMONE CAVALCANTI, RICARDO LEOPOLDO, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR, EDUARDO LAGUNA

“O aumento da meta fiscal acende sinal amarelo. Alerta vermelho virá se reforma da Previdênci­a não passar.” Sergio Vale

ECONOMISTA-CHEFE DA

MB ASSOCIADOS

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