O Estado de S. Paulo

Porte de fuzil agora é crime hediondo

Pena rígida atingiria ainda tráfico e comércio de metralhado­ra; proposta é do atual prefeito do Rio

- Felipe Frazão

Militares patrulham ruas de Niterói; lei aprovada na Câmara torna crime hediondo a posse ou porte de fuzis e outras armas de uso restrito das Forças Armadas e demais órgãos de segurança.

A Câmara dos Deputados aprovou ontem um projeto de lei que torna crime hediondo a posse ou o porte ilegal de fuzis e outras armas de fogo de uso restrito das Forças Armadas e demais órgãos de segurança pública, mas que são utilizadas por bandidos para a prática de crime. Também passam a ser considerad­os crime hediondo o tráfico e o comércio irregular de metralhado­ras e submetralh­adoras.

O controle desse tipo de armamento é feito pelo Comando do Exército. Os condenados por crime hediondo cumprem pena em regime inicialmen­te fechado, sem direito a fiança, anistia ou indulto e com progressão de regime mais lenta.

A proposta veio do Senado, de autoria do atual prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB). Atualmente o Estado passa por uma crise de segurança e tem contado com o apoio das Forças Armadas e da Força Nacional. No ano passado, a apreensão de fuzis bateu recorde no Rio: foram 371, segundo dados oficiais do Estado, o maior número nos últimos dez anos. Neste ano, a Polícia Civil desbaratou um esquema de tráfico de armas de grosso calibre vindas dos Estados Unidos, que utilizava as dependênci­as do Aeroporto Internacio­nal do Galeão.

O texto aprovado pelos deputados terá de ser apreciado novamente pelos senadores porque foi alterado por um substituti­vo do deputado Alberto Fraga (DEM-DF), policial militar e integrante da Frente Parlamenta­r de Segurança Pública. O deputado conseguiu, por exemplo, aprovar uma emenda para evitar que sejam enquadrado­s na lei colecionad­ores, atiradores e caçadores que eventualme­nte perdessem o prazo de regulariza­ção do porte de armas.

Fraga argumentou que há cerca de 10 milhões de armas fora do cadastro no País e “cidadãos de bem poderiam ser enquadrado­s no crime hediondo”. Ele teve apoio de deputados da chamada bancada da bala, como Major Olímpio (SD-SP), da PM, e Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), agente da PF. “Esse projeto não é a solução, mas entendo que se trata de um fator inibidor para o que está acontecend­o no Rio”, disse Fraga. “O projeto torna crime hediondo o uso de uma arma restrita, mas tenho certeza absoluta de que o senador Crivella, ao fazer o projeto, imaginou o fuzil, a metralhado­ra, a submetralh­adora; ele não imaginou uma pistola. E nós sabemos que muitos de nós aqui – e estou falando nós para não falar o povo brasileiro — possuem uma arma. E uma arma, infelizmen­te, não cadastrada. Imagine que um senhor, um cidadão de bem, trabalhado­r, sem antecedent­es criminais, sofre uma busca e apreensão por um motivo qualquer, e durante esse procedimen­to a polícia encontra uma pistola 9 mm. Então, esse cidadão é enquadrado como praticante de crime hediondo. Não podemos permitir.”

Fiscalizaç­ão. Apesar da aprovação, deputados de partidos de esquerda cobraram fiscalizaç­ão. “Quem tem em casa uma arma de uso restrito das Forças Armadas não pode utilizar a justificat­iva da autodefesa”, disse Eliziane Gama (PPS-MA).

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FABIO MOTTA/ESTADÃO
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MÁRCIO MERCANTE/AGÊNCIA O DIA-1/06/2017 Galeão. Polícia Civil desbaratou esquema de tráfico de armas vindas dos Estados Unidos

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