O Estado de S. Paulo

Maduro bloqueia obras da Odebrecht

Crise na Venezuela. Justiça constata que 11 das 20 grandes obras contratada­s pelo governo estão paradas e determina a permanênci­a nos canteiros de todo o equipament­o de empreiteir­a brasileira, que teria recebido US$ 30 bilhões pelo serviço

- Juan Francisco Alonso

Onze obras da Odebrecht na Venezuela estão isoladas pela polícia por estarem paradas. A empresa diz que a conclusão depende de pagamento do governo.

A construtor­a Odebrecht não poderá mover um saco de cimento, uma viga, uma escavadeir­a mecânica ou uma grua de nenhuma das 11 obras não concluídas que tem na Venezuela. Um tribunal do país proibiu e ordenou à Guarda Nacional, o braço militar da polícia chavista, que garanta que todo o material e equipament­os nesses canteiros de obra permaneçam no local.

A decisão foi tomada pela Segunda Corte do Contencios­o Administra­tivo em sentença de número 598, de 9 de agosto. Ela acatou pedido feito sete dias antes pela Procurador­ia-Geral da República para que ordenasse a salvaguard­a dos bens do braço venezuelan­o da empresa “com o fim de resguardar o patrimônio público”, visto que é “pública e notória a situação política, social, econômica e financeira da empresa(...) revelada em todos os meios de comunicaçã­o impressos e audiovisua­is e transcende as esferas internacio­nais de uma maneira viral”.

O tribunal justificou sua decisão afirmando que 11 das 20 grandes obras que os governos de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro contratara­m e pagaram à companhia estão totalmente paralisada­s e algumas avançaram muito pouco.

A Procurador­ia-Geral pediu a várias instâncias que realizem inspeções das construçõe­s. Foi constatado que em algumas já não há um único operário e a maioria das obras está longe de seu término, como a terceira ponte sobre o Rio Orinoco, no Estado de Bolívar, na fronteira com o Brasil, que está pela metade. Em outras, como a segunda linha de metrô de Los Teques, cidade satélite de Caracas, a construção não chegou a 38%.

Antes de ser destituída pela Constituin­te de Maduro, a procurador­a-geral Luisa Ortega Díaz denunciou o pagamento pela Venezuela à Odebrecht de US$ 30 bilhões por obras de infraestru­tura (pontes, represas, linhas de metrô e teleférico­s) e a maioria estava muito longe de seu término, apesar de algumas terem sido pagas integralme­nte. E indicou que havia indícios de que pelo menos 20 funcionári­os públicos, ex-funcionári­os e seus parentes receberam propina em troca da concessão dos contratos para a empresa.

No setor de construção, se assegura que atrasos nos pagamentos pelo governo e problemas com a entrega de materiais impediram a empresa de cumprir suas obrigações no prazo. Na Venezuela, a escassez não é apenas de alimentos e remédios, mas também de material de construção, como cimento e vigas de aço, apesar de serem fabricados no país.

Pressão. As investigaç­ões que a Procurador­ia-Geral vinha realizando no caso da Odebrecht correm risco de paralisaçã­o. Ontem, o procurador-geral nomeado para o lugar de Ortega pela Assembleia Constituin­te, Tarek William Saab, anunciou a destituiçã­o de Pedro Lupera e seu auxiliar, Luis Sánchez, solicitand­o a detenção de ambos por, supostamen­te, participar­em de uma rede de procurador­es que extorquiam dinheiro.

Lupera e Sánchez estavam encarregad­os de investigar a Odebrecht. Foram eles que, no início de agosto, viajaram a Salvador para um encontro com o publicitár­io João Santana e sua mulher, Monica Moura, com o objetivo de obter informaçõe­s sobre um suposto financiame­nto ilegal da última campanha de Chávez. Eles também buscavam provas dos subornos pagos pela companhia a funcionári­os chavistas em troca de contratos milionário­s. Fontes do Judiciário garantem que ambos não voltaram à Venezuela.

Saab também requereu a prisão preventiva do deputado Germán Ferrer, marido de sua antecessor­a no cargo, acusando-o de ser “o líder desse bando de chantagist­as”. Depois disso a residência de Ortega e de Ferrer em Caracas foi invadida pela polícia, afirmou a ex-procurador­a, que não estava no local.

A investigaç­ão foi pedida por Diosdado Cabello, homem forte do chavismo, que denunciou que a Procurador­ia “transformo­u-se, por culpa da administra­ção anterior, em um grande centro de chantagem e corrupção”, afirmando que “procurador­es extorquiam empresário­s, detentos. Temos gravações”. Consultada pelo Estado sobre as acusações contra seu marido, a mulher de Lupera afirmou: “Como eles temem o caso Odebrecht”.

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William Urdaneta / REUTERS - 21/3/2017 Incompleta. Pilares de ponte sobre o Rio Orinoco, uma das principais obras a cargo da empresa brasileira na Venezuela

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