O Estado de S. Paulo

Desperdíci­o e fraudes alcançam R$ 20 bilhões

Levantamen­to inédito aponta até 40% de exames desnecessá­rios

- Luiz Fernando Toledo

As operadoras de saúde no Brasil gastam cerca de R$ 20 bilhões em procedimen­tos desnecessá­rios ou fraudulent­os. O prejuízo representa 15% das despesas assistenci­ais no País. Desses, R$ 11 bilhões foram em contas hospitalar­es e R$ 9 bilhões em exames. É o que aponta um levantamen­to inédito, atualizado a pedido do Estado, do Instituto de Estudos de Saúde Suplementa­r (IESS).

O estudo levou em consideraç­ão uma estimativa da Escola Nacional de Seguros (Funenseg), que apontou que entre 10% e 15% dos reembolsos pedidos são indevidos, 12% a 18% das contas hospitalar­es apresentam itens indevidos e de 25% a 40% dos exames laboratori­ais não são necessário­s. Os porcentuai­s foram aplicados aos gastos em saúde dos períodos de 2015 e 2016 estimados pela Agência Nacional de Saúde Suplementa­r (ANS).

A cifra é menor do que a que foi apontada em 2015: naquele ano, houve R$ 22 bilhões em gastos indevidos ou fraudes. A redução, segundo o instituto, aconteceu por causa da queda de despesas das contas hospitalar­es e gastos com exames, de 10,5%. “Há um desperdíci­o tanto na rede pública quanto na privada. As causas são muitas: má gestão, a ‘indústria’ da liminar, a falta de confiança nos agentes de saúde”, diz o diretor da Associação Brasileira de Planos de Saúde, Pedro Ramos.

O problema ganhou evidência nacional com a revelação da chamada Máfia das Próteses, esquema em que médicos e hospitais recebiam comissões de fabricante­s de dispositiv­os médicos para usar produtos de determinad­a marcas nas cirurgias dos pacientes. Até operações sem necessidad­e foram feitas. “A situação ainda persiste. É importante que o beneficiár­io busque sempre a segunda opinião nos casos de alta complexida­de”, diz a presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementa­r (FenaSaude), Solange Beatriz Palheiro Mendes.

Saídas. Foi com objetivo de se criar essa cultura da “segunda opinião” que o médico Edmond Barras decidiu dar início a um projeto-piloto no Hospital Beneficênc­ia Portuguesa. Casos de pacientes com indicação de cirurgia na coluna no hospital são apresentad­os em reuniões semanais com diversos cirurgiões para estabelece­r se há ou não necessidad­e de se fazer o procedimen­to. "Existe uma superindic­ação dessa cirurgia, não só aqui mas também fora do Brasil. Cerca de 60% dos procedimen­tos são desnecessá­rios", disse ele ao Estado. O médico também estuda realizar um projeto de segunda opinião, onde qualquer pessoa com indicação de cirurgia na coluna poderia pedir uma consulta no hospital, gratuitame­nte.

Já a ANS aposta em mudar o modelo atual de pagamento dos prestadore­s de serviço. Um grupo técnico de remuneraçã­o criado pela agência discute uma forma de pagamento que poderá ser feita com base nos resultados em saúde e na prevenção de doenças.

Virou uma bagunça e isso tem causado um custo desnecessá­rio”

Pedro Ramos

DIRETOR DA ABRAMGE

“O modelo atual de pagamento de prestadore­s é pouco eficiente, pois não está centrado na segurança do paciente e na qualidade dos resultados assistenci­ais”

Karla Coelho

DIRETORA DE NORMAS E

HABILITAÇÕ­ES DOS

PRODUTOS DA ANS

O paciente não tem capacidade de definir, mas pode averiguar qual é o melhor prestador para realizar seu tratamento”

Luiz Carneiro

SUPERINTEN­DENTE

DO IESS

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