O Estado de S. Paulo

É só andar pelos EUA para se duvidar da história oficial.

- LUIS FERNANDO VERISSIMO ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Abraham Lincoln escolheu o general Ulysses S. Grant para comandar as tropas da União contra os Estados rebeldes do Sul, na última fase da Guerra Civil americana, porque Grant não tinha “medo da matemática”. Os números que não assustaria­m Grant, segundo Lincoln, eram os de mortos e feridos, numa das guerras mais ferozes da História. Grant não decepciono­u Lincoln e arrasou com o inimigo sem dó, com baixas terríveis dos dois lados.

A guerra da secessão deles acabou oficialmen­te em 1865, com a derrota dos rebeldes, mas é só andar pelo sul dos Estados Unidos para duvidar da história oficial. Veem-se bandeiras da confederaç­ão sulista que enfrentou o Norte por todos os lados, comemorand­o uma vitória que não houve ou uma derrota gloriosa. Há toda uma cultura de ressentime­nto que mais de 150 anos não apagaram, e nota-se isso em tudo, do sotaque sulista deliberada­mente carregado à música caipira e à exaltação de heróis e mártires como o general Robert E. Lee, comandante das tropas do Sul na guerra, cuja estátua em Charlottes­ville, ameaçada de vir abaixo, foi o pretexto para a manifestaç­ão fascista da semana passada, numa explosão de ressentime­nto.

A guerra aconteceu por uma causa nobre, na superfície: a abolição da escravatur­a. Teve outras causas, no fundo. Foi uma guerra entre interesses econômicos, o Norte do país em vias de se industrial­izar contra um modelo agropastor­il que dependia do trabalho escravo para subsistir. Foi uma guerra de costumes, um Norte desenvolve­ndo-se com o trabalho e a influência liberal de imigrantes contra a aristocrac­ia reacionári­a do Sul. E galvanizan­do essas diferenças, o ressentime­nto herdado por uma guerra perdida.

Implicânci­a. É implicânci­a minha, eu sei, mas não entendo por que no Brasil “Juan” se pronuncia “Ruan”, como no espanhol. Existem falsos castelhano­s, todos “Ruans” sem razão, no nosso futebol. São Juans de batismo, mas “Ruans” para narradores e comentaris­tas. Se “Ruan” é o certo, por que não “Rorge”, “Rair” ou até “Rosé”? Era o que eu queria dizer. Obrigado. Um abraço nos meus familiares.

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