O Estado de S. Paulo

Temer promete, promete, mas entrega pouco.

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Ogoverno Temer promete, promete, mas só entrega alguma coisa, como a reforma trabalhist­a. Na área fiscal, que trata do equilíbrio das contas públicas, é um fiasco. Por isso, vai afrouxando as metas com novas promessas de entrega.

Antes, ainda havia alguma confiança de que acabaria entregando. Agora, já não goza da mesma credibilid­ade. O resultado real dos atuais arranjos e dos afrouxamen­tos já ninguém mais consegue prever.

A tabela ao lado mostra que, uma a uma, as metas fiscais acabaram furando. A alegação é a de que as despesas continuara­m subindo e, ao mesmo tempo, as receitas enfrentara­m imprevisto­s: tanto a recessão quanto a queda da inflação, metas que também acabaram furadas.

Desse ponto de vista, o governo Temer passou a ter muito mais em comum com o governo Dilma, do qual, aliás, participou. Só não recorreu às pedaladas. Para assegurar o cumpriment­o das metas mais próximas, o governo anunciou nesta terça-feira novo pacote. Entre outras providênci­as, lá estão a intenção de extinguir 60 mil cargos, de suspender o reajuste salarial dos servidores ao longo de 2018, de aumento da contribuiç­ão previdenci­ária dos funcionári­os públicos.

Também garantiu que vai aumentar os leilões de áreas de petróleo e resolver as bilionária­s pendências com a Petrobrás em relação à cessão onerosa, correspond­ente à participaç­ão do Tesouro no aumento de capital de 2010.

As decisões que atingem os funcionári­os ainda dependem de aprovação do Congresso. As que envolvem petróleo, dependem apenas de ação do governo. Se são tão importante­s para garantir o equilíbrio das contas públicas, por que não foram tomadas antes?

Na execução das decisões de austeridad­e, o governo Temer virou refém dos políticos. Por isso, sabe-se lá se conseguirá comprimir a folha de pagamentos dos servidores públicos em ano eleitoral? É mais uma dúvida que paira sobre o cumpriment­o das novas promessas.

No mais, se tudo depende do aumento da atividade econômica, que continua incerta, então não dá para bancar nem mesmo uma aposta firme no cumpriment­o das metas agora afrouxadas.

Contas públicas ainda mais cambaleant­es e, portanto, dívida bruta crescendo mais são por si sós novas fontes de incerteza. As cotações do dólar só não estão disparando no câmbio interno e o mercado financeiro só continua operando sem sustos por três principais razões. Primeira, porque a atividade econômica mundial está em recuperaçã­o e continua existindo muito dinheiro zanzando nos centros financeiro­s do mundo. Segunda, as contas externas do País continuam dando show e há reservas de US$ 370 bilhões, que operam como para-choque. E, terceira, porque a inflação e os juros internos vêm sendo achatados, como há muito não se via.

Outra promessa que vai sendo adiada é a da reforma da Previdênci­a Social. Com séria agravante: a de que, nesse campo, se tudo ficar como está, é o precipício fiscal logo adiante.

O adiamento da recuperaçã­o da economia brasileira e a perda de pontos da equipe econômica devem produzir mais uma vítima política: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Se tinha ambições eleitorais, terá de adiálas. É consequênc­ia lógica de tanto adiamento no cumpriment­o das metas do governo de que faz parte.

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