O Estado de S. Paulo

Dívida pública pode chegar a 92% do PIB em 2023

Alteração da meta fiscal contribui com o aumento da dívida pública bruta, que já está perto de 75% do PIB

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Uma das principais consequênc­ias econômicas das novas metas fiscais será o aumento da dívida pública. O rombo bilionário anunciado até 2020 indica que o governo continuará sem dinheiro suficiente para pagar todas as contas e terá de pedir dinheiro emprestado continuame­nte pelos próximos anos. Economista­s já preveem que a dívida deve crescer até 2023 e só começará a cair em 2024.

As contas do governo não fecham desde 2014. Naquele ano, faltaram R$ 20,5 bilhões no caixa – o chamado déficit primário – porque a arrecadaçã­o de impostos não foi suficiente para cobrir todos os gastos da União, desde o pagamento de aposentado­s até investimen­tos em ciência. O rombo cresceu, superou R$ 159 bilhões no ano passado e deve ficar nesse patamar até 2018.

Como em uma família que pede dinheiro emprestado seguidamen­te para pagar contas do dia a dia, o endividame­nto do governo disparou. De 2006 a 2014, a dívida bruta do governo oscilou entre o equivalent­e a 50% e 60% do Produto Interno Bruto (PIB). Em dezembro de 2014, a dívida estava em 56,3% do PIB. Um ano depois, saltou para 65,5%, tocou os 70% no fim de 2016 e já está perto de 75% do PIB.

A Instituiçã­o Fiscal Independen­te (IFI), ligada ao Senado Federal, calcula que a dívida continuará crescendo até o pico de 92,4% do PIB em 2023 para, então, começar gradual melhora.

O economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, concorda e prevê que o governo só voltará a terminar o ano com dinheiro em caixa (superávit primário) em 2024. Para ele, é preciso sobrar entre 3% a 3,5% do PIB no caixa para colocar o endividame­nto em trajetória de queda.

Na opinião do economista José Márcio Camargo, professor da PUC/Rio, se a reforma da Previdênci­a não for aprovada o País dificilmen­te voltará a ter superávit primário. “A Previdênci­a, como é hoje, sempre tem déficit e absorve qualquer superávit, ou seja, vamos ficar enxugando gelo”.

Para Camargo, “o déficit primário

Luiz Carlos Mendonça de Barros

hoje é muito menos importante do que a reforma da Previdênci­a pois, sem ela, será insustentá­vel.”

Inflação. A mudança das metas fiscais não deve alterar o trajeto da inflação e dos juros, e ambos devem continuar caindo, acredita Camargo. “A inflação deve terminar o ano perto de 3,5%, pois sua dinâmica não depende de déficit público, mas da taxa de desemprego alta, do cenário internacio­nal tranquilo, do câmbio estável e da safra agrícola grande.”

Raul Velloso, especialis­ta em contas públicas, acrescenta que só haveria impactos se o risco país subir e afetar o câmbio, o que pressionar­ia a taxa de juros para cima, o que causaria um efeito recessivo maior do que já está ocorrendo hoje. “Mas não acredito que isso ocorra”

Na opinião de Velloso, os mercados vão esperar para ver o que o governo fará nas próximas semanas. “Eles estão vendo o esforço que o governo está fazendo para adotar algumas medidas, embora não tenha conseguido manter a meta anterior, mas, se tudo o que o governo anunciou der certo, ele conseguirá que o déficit não suba ainda mais e pode também passar a percepção de que a equipe econômica conseguiu resistir à sanha dos políticos (que queriam uma meta fiscal ainda maior)”.

Drama. Para o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES, os gastos do governo com juros vão cair, “o que é um fato positivo”. Ele diz não ver “o drama que muita gente está vendo com o anúncio da mudança da meta”, necessária para o País atingir uma situação fiscal melhor.

“Mas, para que a dívida tenha uma trajetória mais sustentada, é preciso fazer as reformas que, certamente, não serão feitas no governo Temer, o que levará toda a inseguranç­a para as eleições de 2018”, diz Mendonça de Barros.

“Para que a dívida tenha uma trajetória mais sustentada é preciso fazer as reformas.”

ECONOMISTA

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FELIPE RAU/ESTADÃO - 6/3/2017 Camargo. Inflação e juros vão continuar caindo

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