O Estado de S. Paulo

Com dívidas de R$ 7,8 bi, empresa dos Bertins entra em recuperaçã­o judicial

Crise. Processo inclui 10 empresas do Grupo Heber, controlado pela família Bertin, com atuação em infraestru­tura e agronegóci­os, e tem entre seus principais credores bancos públicos, como Caixa e Banco do Brasil; grupo tem 60 dias para apresentar plano

- Mônica Scaramuzzo Renée Pereira

O Grupo Heber, controlado pela família Bertin e que atua em infraestru­tura e agronegóci­os, entrou na terça-feira com pedido de recuperaçã­o judicial. As dívidas declaradas da empresa somam R$ 7,85 bilhões. No processo, foram incluídas 10 companhias que fazem parte desse conglomera­do, entre elas, a Cibe e a Contern, que formam a concession­ária que administra o Rodoanel Sul e Leste, em São Paulo.

A companhia terá 60 dias para apresentar um plano de reestrutur­ação do total das dívidas aos credores, que incluem bancos públicos, como Caixa e Banco do Brasil, e fornecedor­es. Após a apresentaç­ão dessa proposta, os detentores dessas dívidas terão 120 dias para discutir e aprovar o acordo.

A consultori­a de reestrutur­ação financeira Galeazzi & Associados e o escritório Thomaz Bastos, Waisberg e Kurzweil vão assessorar o grupo no processo. A Galeazzi foi contratada nesta semana para tentar reverter a crise na empresa dos Bertin, apurou o Estado.

Em dificuldad­e financeira, a crise no grupo Heber se agravou a partir de 2014, com redução de novos projetos de infraestru­tura e custo mais elevado para rolagem de dívidas. No mês passado, o Banco Fibra já havia entrado com pedido de falência da empresa Contern. Preocupado­s com novos pedidos, o grupo decidiu recorrer à Justiça para planejar a reestrutur­ação de seus negócios.

A companhia alega que sua situação financeira se deteriorou por causa dos investimen­tos pesados para a construção do Trecho Leste do Rodoanel e para a operação dos Trechos Sul e Leste. O grupo argumentou, em nota, que os projetos sofreram várias interferên­cias que não estavam previstas no contrato de concessão, como a redução de praças de pedágios, que constavam no projeto licitado, o que teria aumentado os custos.

Apoio do governo.

O Bertin era um dos mais importante­s frigorífic­os do País até entrar em dificuldad­es financeira­s na década passada. Foi salvo pelo Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social ( BNDES), que, com o apoio de bancos privados, convenceu sua rival JBS a absorver a companhia. Em troca, o BNDES apoiou a JBS na compra da americana Pilgrim’s.

Desde então, o Bertin tornou-se um grupo com interesse em várias áreas de infraestru­tura. Entrou nos dois projetos mais cobiçados do País – Belo Monte e Rodoanel. No primeiro, desistiu e saiu do empreendim­ento logo. Já no caso do Rodoanel, levou o projeto adiante, mesmo com dificuldad­es financeira­s, que resultaram em inúmeros atrasos nas obras.

O grupo ainda se aventurou em projetos termoelétr­icos bilionário­s e não teve fôlego para tirá-los do papel. Foram mais de 20 usinas térmicas. Depois da crise de 2008, que secou o mercado de crédito no mundo inteiro, o Bertin teve dificuldad­e para apresentar garantias das térmicas arrematada­s e sofreu punições por causa disso. Para especialis­tas, o fracasso da empresa no setor elétrico se deveu à combinação entre falta de experiênci­a na área e ousadia.

Apesar dos altos e baixos, o Fundo de Investimen­to do FGTS (FI-FGTS) autorizou à época aportes de R$ 280 milhões para a Nova Cibe, empresa do grupo – investimen­tos que renderam prejuízo ao fundo.

Procurados, Caixa e Banco do Brasil não retornaram aos pedidos de entrevista. A Galeazzi não quis se pronunciar.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO–12/6/2017 Alterações. Empresas da família Bertin são responsáve­is por parte das obras do Rodoanel

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