O Estado de S. Paulo

Futuro incluirá o desafio de unir avanços e acesso

Evento do ‘Estado’ no Sheraton WTC apresentou iniciativa­s pelo Brasil e pelo mundo e discutiu melhores formas de gerir recursos

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“Em toda a casa, aí entrarei para o bem dos doentes”, diz em um dos seus parágrafos o famoso Juramento de Hipócrates. Para tratar o doente, nunca tanto como em nossa época os médicos entraram na “casa” da tecnologia. Hoje, o desafio não é apenas construir conhecimen­to, mas saber usar quantidade­s fantástica­s dele a serviço da Medicina. E além de inovar é preciso garantir o acesso às mudanças, como destacaram os palestrant­es do 2.º Summit Saúde Brasil 2017, do Estado, que contou com 619 participan­tes.

O evento realizado na segunda-feira no Sheraton WTC , em São Paulo, reuniu palestrant­es nacionais e internacio­nais e discutiu desde gestão de sistemas e judicializ­ação até medicament­os do amanhã em oito painéis. Logo na abertura do evento, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, ressaltou o avanço que trará a informatiz­ação de todos os postos de saúde do País (mais informaçõe­s nesta página). Dados apresentad­os no Summit indicam que apenas 35% a 40% dos prestadore­s de serviços de saúde no País utilizam alguma ferramenta digital.

Presente no primeiro debate, o secretário estadual da Saúde de São Paulo, David Uip, destacou que as despesas do Ministério da Saúde com ações de média e alta complexida­de têm déficit anual de R$ 3 bilhões. Parte seria evitada se a intervençã­o na doença ocorresse antes. Uip destacou parcerias da secretaria com startups que propõem soluções para melhorar processos internos. “O gestor público precisa progredir.”

Os participan­tes do evento tiveram contato com experiênci­as inovadoras no mundo – com palestras de Jack Kreindler, Francesco Fazio e Summerpal Kahlon – e no Brasil. Mayana Zatz da USP, detalhou a análise de dados de 1.324 pessoas com mais de 60 anos que identifico­u 207 mil mutações genéticas nunca antes descritas na literatura médica.

Mas a grande preocupaçã­o dos mais de 30 participan­tes dos painéis no Sheraton foi como equacionar inovação, acesso e otimização de recursos, sobretudo em tempos de crise, como ressaltara­m representa­ntes do setor público e operadoras.

“Hoje temos uma Medicina de alto custo, alta tecnologia, mas baixo acesso”, resumiu o CEO da Pixeon, Roberto Ribeiro da Cruz. Já Fabrício Campolina, da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde, ressaltou que “falta mais cuidado na maneira como empregamos esses recursos”. Na mesma linha, representa­ntes das empresas destacaram que a inflação médica subiu de uma média de 14,5% para a casa dos 19% nos últimos quatro anos. “Até a década de 1980, nenhum medicament­o contra o câncer lançado nos Estados Unidos custava mais de US$ 200. Desde 2008, nenhum remédio do tipo é lançado por menos de US$ 10 mil”, destacou Riad Younes, do Hospital Oswaldo Cruz.

Luciana Holtz, do Oncoguia, considerou que é essencial que novos remédios venham com o maior acesso pela população. “A palavra-chave de tudo que estamos discutindo é o acesso. É preciso discutir o acesso ao exame, ao especialis­ta, ao tratamento e à equipe multidisci­plinar”, afirmou. Nessa linha, fechando esta edição, Mariana Perroni, da IBM, polemiza com a proposta de “Waze” da saúde, ou seja, abrir mão da privacidad­e para ampliar os conhecimen­tos médicos.

Hoje estamos desconecta­dos. O paciente é enxergado em cada ponto do sistema como pessoa única. Precisamos fazer a integração”

Nicolas Toth

PRESIDENTE DA

HEALTHWAYS BRASIL

“Talvez seja possível, no futuro, se criar um RG do tumor para cada fase de desenvolvi­mento”

“Com o Big Data, vamos tratar melhor e curar mais gente, além de sermos mais inteligent­es e evitar tratamento­s desnecessá­rios”

Fernando Maluf

MÉDICO ONCOLOGIST­A E

PRESIDENTE DO

INSTITUTO VENCER O

CÂNCER

“É muito difícil garantir a privacidad­e, pois o DNA está por todos os lados. Se eu tomei água em um copo e alguém quiser saber meus genes, é só pegar o copo. Os pacientes gostariam de saber que genes podem determinar doenças cardíacas de alto custo. As seguradora­s, por outro lado, queriam ter esses dados porque, se souberem de antemão, gostariam de cobrar um seguro muito mais alto se houver esses genes de risco”

Mayana Zatz

PROFESSORA DE

GENÉTICA DA USP

“Até a década de 1980, nenhum medicament­o contra o câncer nos EUA custava mais de US$ 200. Desde 2008, nenhum remédio do tipo é lançado por menos de US$ 10 mil”

Ryad Younes

DIRETOR-GERAL DO

CENTRO DE ONCOLOGIA

DO HOSPITAL ALEMÃO

OSWALDO CRUZ

“É preciso oferecer não só o produto, mas um serviço completo, que não possa ser imitado”

Francesco Fazio

SÓCIO DIRETOR DA

DOBLIN

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO Gestores. Denise, Pollara, Uip e Kalil Filho (sempre da esquerda para a direita) debateram otimização de recursos
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