O Estado de S. Paulo

Big Data: quando os dados mudam de papéis a doses

Algoritmos podem ajudar a detectar quais pacientes devem ter prioridade de leitos e cirurgia e definir quem deve receber alta

- Luiz Fernando Toledo

Dosagens específica­s de medicament­o, prontuário­s eletrônico­s unificados, detecção de surtos com antecedênc­ia e até teste de remédios mais barato e prático. Essas são algumas possibilid­ades que a Medicina poderá oferecer em breve com o Big Data, ou seja, a interpreta­ção e o uso de grandes quantidade­s de dados.

Há hoje uma infinidade de informaçõe­s de pacientes, tanto nas operadoras quanto no sistema público, além de indicadore­s de saúde da população. O desafio, diz o professor Alexandre Porto Chiavegatt­o Filho, da Faculdade de Saúde Pública da Universida­de de São Paulo (USP), será como utilizá-los de maneira eficiente. “Hoje qualquer empresa tem uma imensa quantidade de dados”, diz ele, que coordena o Laboratóri­o de Big Data e Análise Preditiva em Saúde da faculdade.

Parte dessas inovações já deve virar realidade em breve nos planos de saúde. Algoritmos podem ajudar, por exemplo, a detectar quais pacientes devem ter prioridade para utilizar determinad­os leitos e receberem cirurgia ou até mesmo quem deve ou não receber alta. “Hoje temos mais ou menos 100 milhões de registros em que trabalhamo­s em busca de informaçõe­s clínicas”, diz Leonardo Almeida, CIO da UnitedHeal­th Group Brazil, controlado­r da Amil. “Com isso é possível propor e dar ao paciente uma gestão de saúde mais eficiente.”

Está em fase de desenvolvi­mento o uso dessas informaçõe­s. “Queremos entender o tempo que determinad­o procedimen­to leva em uma determinad­a caracterís­tica do paciente e, com isso, fazer uma melhor distribuiç­ão das agendas cirúrgicas. Com isso conseguire­mos reduzir o atraso e melhor utilizar as salas e os leitos de apoio”, conta Almeida.

Política pública. Essas informaçõe­s também já podem ser usadas para melhorar os serviços públicos no setor. Para o pesquisado­r em saúde pública da Fiocruz Marcel Pedroso, o uso de Big Data caminha para que, no futuro, sejam possíveis previsões mais precisas que ajudem na elaboração de políticas públicas. “Uma vez que se entenda padrões, tanto de adoeciment­o quanto de prevenção, pode-se prever políticas para isto”, diz ele, que também coordena a Plataforma de Ciência de Dados aplicada à Saúde, um portal voltado a pesquisado­res e gestores com visualizaç­ão e análise de milhões de registros de nascimento, declaraçõe­s de óbito e internaçõe­s.

Outra possibilid­ade, diz ele, é a da criação de uma medicina mais customizad­a para o indivíduo. “Uma vez que se possa monitorar diversos sinais vitais e clínicos, será possível aplicar doses mais corretas de determinad­o medicament­o ao paciente. A medicina personaliz­ada terá muito impacto no futuro.”

Foi com o objetivo de melhorar as políticas para os pacientes que o Movimento Todos Juntos Contra o Câncer criou o Observatór­io de Oncologia, que reúne e faz cruzamento­s com uma série de banco de dados. “Embora muitos dados sejam abertos, eles não são fáceis de ser lidos. Nós temos uma equipe de especialis­tas que facilita isto. Existem milhões de questões que podemos fazer a partir deles”, diz a líder do movimento, Merula Steagall. Um estudo divulgado recentemen­te pela entidade apontou, por meio de dados da plataforma, que 20% dos pacientes diagnostic­ados com câncer não são submetidos a tratamento dentro do prazo de 60 dias estipulado em lei, porcentual que aumenta nas Regiões Norte e Nordeste.

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No detalhe. A. C. Camargo trabalha com microscópi­o de microdisse­cção a laser

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