Ação preventiva cresce 3.176% no País
Há 8 anos, só havia 50 iniciativas levadas à ANS; trabalho foca análise de uso e melhoria da qualidade de vida
Os gastos crescentes com procedimentos desnecessários fazem, cada vez mais, as operadoras focarem na criação e na personalização de programas de prevenção para seus segurados. Houve aumento de 3.176% nas iniciativas desde 2009. Dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), obtidos pelo Estado, apontam que havia 50 iniciativas em 2009 informadas à agência pelas operadoras. Hoje, são 1.638. Nelas, 1,9 milhão de pessoas são atendidas.
A assistente de qualidade de vida Simar Botelho Cordeiro, de 42 anos, participa há quatro do programa Juntos pela Saúde, do Bradesco, em um tópico específico para pacientes com doença crônica. Ela é portadora de dislipidemia, doença que causa alteração no colesterol. “Eu era uma pessoa totalmente sedentária. Quando me inseriram no programa, passei a ter um acompanhamento. Hoje faço exercícios e exames regulares. Já perdi dez quilos”, conta.
As ligações de especialistas ocorrem periodicamente. “Perguntam se marquei alguma consulta, se pedi algum exame, quais foram os resultados.” A Bradesco ainda realiza reuniões trimestrais em um comitê de saúde para fazer análises de grupos de beneficiários e propor soluções com base em uma análise epidemiológica. O Juntos Pela Saúde teve início em 2006 e atende clientes dos planos empresariais. As ações vão desde a entrega de material explicativo e realização de palestras até a elaboração de programas específicos de gestão de patologias. “O cliente aceita participar porque entende que vai receber uma atenção a mais”, diz o diretor da empresa Flávio Bitter.
Prevenção. O administrador e consultor em recursos humanos Ronaldo Oliveira, de 55 anos, participa há três do programa Consultor de Bem Estar, da SulAmérica. “É uma espécie de coaching da saúde”, resume ele, que recebe ligações a cada 45 dias. “O mais importante é que eles estão ali mais para te ouvir e fazer perguntas, de forma a mostrar o caminho a seguir”, conta.
A professora Ivani Feixas, de 69 anos, sentia dores na coluna quando recebeu uma das ligações do programa. “Aí me encaminharam para um tratamento, uma espécie de ginástica. Eles incentivam a gente a se cuidar.”
A SulAmérica tem hoje dez iniciativas desenhadas para públicos específicos, que vão desde o jovem saudável que precisa apenas de um acompanhamento até o portador de doenças crônicas. Para chegar aos pacientes, o plano utiliza dados de suas contas médicas para saber qual o melhor programa indicado para cada pessoa.
Há, hoje, cerca de 70 mil segurados nessas ações. A mais recente delas, chamada Atenção no Alto Risco, foca em segurados que passaram recentemente por uma internação para determinados quadros, de média a alta complexidade. “Os programas partem de um mapeamento do estado de saúde, estilo de vida e riscos de cada segurado”, diz a superintendente de serviços médicos Raquel Imbassahy, da SulAmérica.
Médico de família. Em busca de um melhor funcionamento do sistema de saúde, a Amil detectou um grupo de “superutilizadores” de seus planos – perfil de segurado que realiza muitos procedimentos ou gasta volume de dinheiro alto – e deu prioridade a eles na oferta dos programas de prevenção. Há hoje 68 mil beneficiados – 30 mil considerados neste perfil de alto uso do plano. “Na faculdade aprendemos que a metodologia de prevenção é muito mais eficaz do que deixar o paciente chegar à atenção hospitalar, mas isso vai sendo deixado para trás com o passar do tempo”, diz o diretor de Gestão de Saúde da Amil, Daniel Coudry. Para ele, há uma “fragmentação de cuidados”, com um paciente que não sabe qual deve ser sua porta de entrada quando precisa de determinado atendimento.
Foi com base nisso que a empresa criou os Clubes Vida de Saúde, com médicos de família e apoio de equipes com psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, enfermeiros e agentes de saúde. Lançadas em 2016, hoje existem 16 unidades desse gênero. O vendedor Laerte Rocha, de 53 anos, conheceu o Clube Vida depois de conversar com um cardiologista. Já estava com sobrepeso na época. “Isso me ajudou muito”, diz ele, que tinha 110 quilos e hoje está com 68 quilos.